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Análise: Darkest Dungeon: The Crimson Court (Multi) traz sangue, estresse e mais grind

A expansão introduz conteúdo e mecânicas que intensificam ainda mais as características já presentes no jogo.


Darkest Dungeon é um misto de RPG e dungeon crawler com grande foco na sanidade mental dos heróis: depois de verem tantos horrores, o estresse toma conta deles e tudo pode acontecer. O jogo é uma experiência tensa e bem única, e está disponível para PC, PlayStation 4 e PS Vita.

Agora, a desenvolvedora Red Hook lançou uma expansão para o título, de nome The Crimson Court. O foco do DLC é uma nova área repleta de criaturas loucas por sangue, em uma espécie de interpretação macabra de vampirismo. Além da inclusão de conteúdo inédito, a expansão introduz também mecânicas que alteram significativamente o jogo. O resultado é uma experiência diferenciada, sem deixar de lado a premissa original da tensão constante.

Explorando um jardim maldito

O foco da expansão é um novo calabouço chamado Courtyard (O Pátio Real). O local está infestado de criaturas loucas por sangue, como mosquitos gigantes, deformidades que lembram uma fusão de pessoas com pulgas, e humanos com nariz de pernilongo. A temática do lugar, dos inimigos e da mecânica Crimson Curse são claramente baseadas em vampirismo, porém é como se essas criaturas horripilantes tivessem sido criadas por H. P. Lovecraft — os monstros são bizarros e estranhos, parecem mesmo de outro mundo.

Mecanicamente, a Courtyard funciona de maneira diferente dos outros calabouços. Ao invés de mapas gerados proceduralmente, o local tem desenho fixo. Além disso, os mapas são imensos e contam com portas trancadas, bifurcações e outros segredos. A intenção é explorar cada trecho várias vezes, avançando aos poucos — o progresso é salvo a cada incursão. Gostei bastante dessa alteração, pois traz uma sensação de um RPG tradicional que não está presente nos outros calabouços.


Horríveis criaturas sedentas por sangue

Darkest Dungeon sempre foi muito difícil e esses novos inimigos deixam as coisas ainda mais complicadas. Eles são rápidos, conseguem evitar com relativa facilidade os ataques dos heróis e são especialistas em infligir sangramentos. Para piorar, esses bichos horríveis invadem as outras áreas do jogo, elevando a dificuldade e trazendo um ar de novidade — fui forçado a reavaliar minhas estratégias por conta desses monstros. Os novos chefes exigem estratégias bem elaboradas e são bem diferentes dos outros já presentes no título. Admito que fico sempre angustiado quando vejo um desses novos inimigos (a combinação insetos e humanos é bem grotesca) e acredito que foram uma ótima adição ao jogo, tanto visualmente quanto mecanicamente.

Os inimigos vampíricos são capazes de infectar os heróis com a temível Crimson Curse (Maldição Escarlate). Os personagens, quando infligidos por essa mazela, meio que se transformam em vampiros: eles vão enfraquecendo com o passar do tempo e necessitam consumir um item chamado The Blood (O Sangue) para sobreviver. Os guerreiros ficam loucos caso fiquem muito tempo sem tomar sangue e começam a atacar os aliados, recusar ordens e, em último caso, definham até a morte. Para piorar, a Crimson Curse não pode ser removida por meios tradicionais, o que implica caçar e matar inimigos vampíricos para obter o item The Blood. Isso, em conjunto com as várias outras mecânicas do jogo base, deixa a aventura ainda mais tensa.


Flagelos e distritos

A expansão não é feita só de desafios, ela também introduz algumas novas ferramentas. A principal delas é uma classe chamada Flagelant que, como o nome sugere, é um guerreiro autoflagelante. Esse herói é bem único, pois fica mais forte conforme sua vida cai, o que resulta em um grande dilema de risco e recompensa. Além disso, algumas de suas habilidades só podem ser utilizadas quando ele está quase morrendo. Depois de explorar alguns calabouços com ele, senti que o Flagelant é bem versátil e perfeito para montar estratégias variadas, por mais que seja um pouco fraco em relação a outros guerreiros focados no ataque, como Crusader e Hellion.

Por fim, temos também os Districts na vila. Neles, podemos criar construções que provêm algum benefício, como gerar comida gratuita, melhorar permanentemente atributos de certas classes ou tornar as tochas mais efetivas. Assim como as outras instalações da vila, as construções nos Districts exigem grande quantidade de heranças e dinheiro. O impacto delas não é muito grande, porém qualquer ajuda é bem-vinda nesse ambiente repleto de horrores.


Em uma primeira olhada, parece que o conteúdo do DLC é reduzido e simples. Porém, a combinação de todas essas inclusões torna o jogo mais completo e interessante. É uma expansão que modifica a essência da experiência e não é somente mais conteúdo a parte.

Coletando itens repetidamente

The Crimson Court traz várias novidades legais que complementam bem o jogo base. No entanto, há problemas bem desagradáveis.

O que mais me incomodou (e irritou) é a maneira de acessar o calabouço Courtyard. Após completar a primeira missão do local, só é possível voltar lá de posse de um convite, que só pode ser adquirido ao derrotar um inimigo específico e que só aparece quando a infestação de criaturas vampíricas está alta. Sendo assim, você é forçado a explorar repetidas vezes as regiões do jogo base e torcer pro inimigo aparecer para conseguir os tais convites. Por conta disso, só consegui acessar novamente o Courtyard depois de várias horas de repetição.


Isso não é muito problemático para quem começou a aventura agora, pois no início é necessário explorar todas as regiões do jogo e no processo os convites são adquiridos naturalmente. Já aqueles com progresso mais avançado e heróis mais fortes, é necessário fazer grind em busca desse item (ou então recomeçar tudo do zero). Eu entendo que a intenção da desenvolvedora foi incorporar o DLC de maneira natural à aventura principal, o que implica em explorá-lo aos poucos. Porém, acredito que os maiores interessados na expansão são os jogadores mais dedicados, justamente os que terão que passar por muito grind. Particularmente, preferia que o acesso a esse calabouço fosse mais simples — ficar buscando um item à mercê da sorte traz a sensação de estender artificialmente o DLC.

A outra questão tem a ver com a mecânica Crimson Curse. Quando afligidos por essa maldição, os heróis precisam consumir sangue na forma de um item. Assim como os convites para a Courtyard, The Blood é derrubado aleatoriamente pelos inimigos vampíricos. Sendo assim, para que os heróis infectados não morram, é necessário fazer grind em busca desse item. Para piorar, essa doença é semi-permanente, o que deixa tudo ainda mais complicado. O jogo já é bastante punitivo e o Crimson Curse só deixa as coisas ainda mais difíceis, principalmente por exigir um item no qual o jogador não tem completo controle. O resultado é uma mecânica que pouco adiciona à experiência por ser desbalanceada e até mesmo desagradável.


Assim como nos últimos anos, os jogadores expressaram seus descontentamentos e frustrações com o DLC no fórum do jogo e a desenvolvedora até já fez alguns ajustes, principalmente no que diz respeito à facilidade de se obter os itens especiais. Com o tempo e correções, é bem capaz que a experiência com The Crimson Court se torne mais prazerosa. Felizmente, é possível ativar somente partes do DLC, o que pode ser vantajoso para alguns.

Tensão, Sangue e diversão

The Crimson Court transforma e expande Darkest Dungeon de uma ótima maneira. O DLC traz várias novidades principalmente nas mecânicas, o que faz com que a base do jogo se torne ainda mais interessante. O destaque é o calabouço Courtyard, que é bem distinto dos outros locais com sua progressão diferenciada e seus terríveis inimigos. O porém fica por conta da intensificação de problemas já existentes no jogo base: é necessário repetir várias vezes as missões básicas para poder acessar a nova área, e algumas coisas estão desbalanceadas, como a aflição Crimson Curse.

No fim das contas, Darkest Dungeon: The Crimson Court é uma ótima expansão por complementar a experiência de jogo, ou seja, traz mais tensão e situações interessantes. Sendo assim, ela é perfeita para todos os tipos de jogadores.

Prós

  • Novas mecânicas implementadas naturalmente ao jogo principal;
  • O novo calabouço apresenta ideias interessantes e distintas dos outros;
  • A nova classe e os novos inimigos expandem as opções estratégicas;
  • Ótima direção de arte, principalmente a interpretação de vampiros.

Contras

  • Acessar o novo calabouço exige muito grind;
  • A mecânica Crimson Curse é desbalanceada e desagradável.
Darkest Dungeon: The Crimson Court — PC/PS4/PS Vita — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Ana Krishna Peixoto

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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