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Análise: Super Rude Bear Resurrection (PC/PS4) escorrega nos próprios controles e deixa a desejar

Com uma mecânica singular e level design caprichado, o jogo da Alex Rose Games decepciona e fica à sombra de outros mais populares do gênero como Super Meat Boy.


É possível dividir de duas formas os indivíduos que decidem jogar Super Rude Bear Resurrection (PC/PS4). O primeiro grupo é composto por jogadores que não têm medo de enfrentar um jogo de dificuldade claramente elevada e de deixar os nervos à flor da pele. O segundo é aquele que o encara num tom de deboche, acreditando que ele não deve ser tão intenso assim.


Eu me encontro nessa segunda classificação. Apesar de perceber a dificuldade escancarada nos trailers e sinopses, supus que a mecânica singular envolvendo os cadáveres do Rude Bear (o urso do título), que continuam na fase após a morte, iria servir como um bom contraponto — o que, óbvio, acabou não acontecendo.

Explicarei: Super Rude Bear Resurrection é mais um daqueles jogos de plataforma de desenvolvimento frenético e dificuldade elevada, tal qual Super Meat Boy, em que o jogador precisa atravessar as fases jogando com o Rude Bear. O diferencial no gameplay é que, ao morrer, o corpo do ursão permanece na fase, exatamente no ponto onde a morte aconteceu. Assim, posteriormente, ele pode ser utilizado como apoio para passar daquele trecho específico, evitando aquele momento de frustração de ficar empacado eternamente sempre na mesma parte.



A grande questão é que tal sensação ainda está presente nas fases mais tardias. No começo é normal morrer uma vez e passar logo na segunda tentativa. Chegando no quinto ou sexto mundo, não é incomum observar pilhas e pilhas de cadáveres se formando na plataforma inferior ou ainda o próprio jogador perder a paciência e começar ele mesmo a montar tal pilha para passar mais facilmente de determinada etapa.

Isso, no entanto, muitas vezes vai acontecer por problema de gameplay. A física do jogo, de forma intencional ou não, faz toda fase parecer uma fase de gelo, com chão escorregadio. Considerando que ele se propõe a ser difícil com base no design das próprias fases, controles precisos é o mínimo que o jogo deveria ter para oferecer uma experiência satisfatória.

Tocando no assunto, o melhor do jogo é justamente o level design. São sete mundos principais, cada um com fases diversificadas e recursos diferenciados — geralmente resumidos a novas formas de matar o Rude Bear — que deixam o progresso do jogo sempre fresco e contrabalanceiam a frustração de estar preso num looping de mortes infinitas por conta de alguma parte especialmente complicada.

Super Rude Bear também conta com alguns chefes. O problema é que muitos deles são relativamente fáceis de vencer, se comparados ao resto do jogo em si. Aliás, nenhum é lá muito carismático, nem um que é uma homenagem aos bosses do Mega Man. Considerando a versatilidade de formas que o jogo encontra para matar o jogador, é decepcionante que os chefões sejam tão sem sal.



Essa falta de personalidade, por sua vez, se mostra presente no jogo como um todo, visto que Super Rude Bear, apesar de ter uma direção de arte bem competente, não consegue se firmar e se destacar a ponto de virar um jogo indie capaz de ser lembrado como referência no gênero. Ele tem seu mérito criativo, mas tudo nele é genérico. Mesmo o personagem do título, que deveria ser “Super Rude”, não demonstra isso. O mais próximo de um personagem com carisma que o jogo oferece — a fadinha que acompanha o ursão e tem como função limpar seus cadáveres quando eles acumulam e começam a atrapalhar — chega a ser incômoda pelos comentários a respeito da incompetência do jogador ao morrer sucessivamente. Por mais que seja engraçado nas primeiras vezes, a graça logo se perde. A trilha sonora também é insossa, o que contribui para a antipatia do título.

Outra coisa que incomoda de verdade é a câmera trêmula. Já basta o cinema usar o recurso da câmera nervosa em momentos inoportunos, parece que a prática está pouco a pouco chegando aos games. Não importa se é possível desativar esse quesito. Se é a configuração padrão, é, teoricamente, como o jogo deve ser jogado e foi proposto pelos desenvolvedores, e isso é um erro. Amenizado por oferecerem a capacidade de desligar tal característica, mas ainda é um erro.



Em tempo, outros modos de jogo também foram incorporados, alguns mais desafiadores, como a proposta de jogá-lo sem que os cadáveres acumulem, como qualquer outro jogo de plataforma, mas o desafio masoquista, somado aos controles imprecisos, vai afastar a maioria.

Super Rude Bear Resurrection não é ruim, mas está longe de ser exemplar. Há muito o que melhorar se quiser ao menos gerar algum buzz, a começar pelos controles. Ainda precisa comer muito arroz e feijão para chegar aos pés de Super Meat Boy.

Prós

  • Visual agradável;
  • Mecânica de cadáveres criativa;
  • Design de fases feito com esmero.

Contras

  • Controles imprecisos;
  • Trilha sonora insossa;
  • Jogo sem carisma algum.

Super Rude Bear Resurrection — PC/PS4 – Nota 6,5  
Plataforma usada: PC

Revisão: Bruno Alves

É jornalista formado pelo Mackenzie e pós-graduado em teoria da comunicação (como se isso significasse alguma coisa) pela Cásper Líbero. Tem um blog particular onde escreve um monte de groselha e também é autor de Comunicação Eletrônica, (mais um) livro que aborda história dos games, mas sob a perspectiva da cultura e da comunicação.
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