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Análise: Song of the Deep (Multi) é um conto de fadas submarino

Este Metroidvania aquático é bonito e cheio de charme.


Às vezes me encontro pensando no futuro. Algum dia provavelmente terei filhos, e sem dúvida irei querer mostrá-los a magia dos videogames. A tarefa mais difícil é pensar em quais jogos seriam ideais para isso — com certeza eu gostaria de mostrá-los Mario, mas vamos deixar os GTAs para quando forem um pouco mais velhos, certo? Ao jogar Song of the Deep, da Insomniac Games, não pude evitar pensar no jogo como um conto de fadas moderno, contendo uma história simples e cheia de aventura e magia e adicionando a interação que apenas jogos eletrônicos permitem.

A Insomniac anda fazendo o impossível. Enquanto produziram um dos poucos jogos realmente exclusivos do Xbox One, refizeram o seu maior clássico e se preparavam para anunciar o que seria uma das maiores revelações da E3, também desenvolveram um jogo totalmente independente para adquirir doações para caridade, estão apostando na realidade virtual em parceria com a Oculus e Song of the Deep faz da Insomniac a primeira desenvolvedora a lançar um jogo sob o rótulo GameTrust, uma nova publicadora de games da gigante de varejo GameStop. Com tantos lançamentos em pouco tempo, é de se perguntar se a equipe não está se espalhando demais e sacrificando qualidade por quantidade. Dito isso, devo dizer que o jogo acabou sendo uma surpresa muito agradável.

O enredo do jogo é simples: Merryn, filha de um pescador, constrói um submarino para procurar seu pai após ele se perder no oceano. A apresentação, com belas gravuras, uma trilha sonora simples mas envolvente e uma narradora com um agradável sotaque irlandês, faz maravilhas para acertar o tom que, como dito antes, remete ao de um conto de fadas.

É difícil não se encantar com a beleza do jogo assim que ele começa. A bordo do S.S. Eirnin, Merryn passa por algas, corais, águas-vivas, peixes e toda uma variedade de ambientes e criaturas marinhas. A progressão do jogo é no formato Metroidvania — um de meus favoritos — então gostei muito de explorar cantinhos procurando colecionáveis enquanto a narrativa me levava em direção a melhorias para meu submarino.


Como é característico do gênero, o submarino começa como algo frágil e inofensivo até se tornar uma máquina poderosa perto do final do jogo, mas o formato de combate do jogo não permite grandes mudanças na forma de enfrentar inimigos. Alguns deles são vulneráveis apenas a certos tipos de golpes, mas em geral a forma como o submarino se movimenta e a pouca variedade de inimigos fez esse aspecto do jogo se tornar rapidamente repetitivo. O combate nunca se torna realmente desafiador, porque geralmente a integridade do submarino se recupera mais rápido do que os inimigos conseguem causar dano. Alguns chefes são legitimamente criativos e divertidos, mas infelizmente o último deles se tratou de mais uma luta de "ataque os capangas até o ponto fraco aparecer".

O destaque do jogo são os puzzles. Bombas, barris, pedras e feixes de luz são todos partes dos mais variados quebra-cabeças que, quase sempre, são uma delícia de resolver. Alguns deles acabaram sendo desnecessariamente frustrantes (especificamente, são fáceis de resolver mentalmente, mas exigem grande precisão temporal ou espacial e acabavam se tornando tentativa e erro). Pelo menos uma vez, eu passei alguns minutos resolvendo um puzzle da "forma difícil" e logo em seguida percebi que tinha uma forma muito mais simples de fazer — frustrante, mas é divertido saber que nem sempre há apenas uma solução para um desafio.



É visível que Song of the Deep foi um jogo desenvolvido por paixão da equipe da Insomniac, sem grandes ambições comerciais. Feito em Unity, a Insomniac faz bom proveito da engine, remetendo aos visuais de Ori and the Blind Forest e jogos da UbiArt. Contudo, o jogo sofre de ocasionais quedas de desempenho e, em pelo menos dois locais, as quedas eram tão graves que dificultaram o progresso; fui esmagado por estacas porque não conseguia controlar o submarino com o tempo certo enquanto o PlayStation 4 sofria para mostrar o jogo. Num jogo em 2D, isso é inaceitável. Foi engraçado jogar Ratchet & Clank em seguida e perceber que o jogo, da mesma desenvolvedora, consegue ser um dos mais visualmente impressionantes do PS4 sem sofrer desse tipo de problema.



Como um todo, o quase-indie da Insomniac é uma experiência agradabilíssima para quem quer explorar um mundo enquanto aproveita uma história tranquila e charmosa. Como um fã de Metroidvanias, sempre me agradei com as criativas formas de explorar o mundo — não vou falar mais para manter as surpresas do leitor. Apesar da preocupante diversidade de jogos desenvolvidos simultaneamente pela Insomniac, a equipe se mostra capaz de sempre entregar uma experiência sólida. Se algum dia eu tiver que escolher um Metroidvania para apresentar aos meus filhos, Song of the Deep estará próximo ao topo da lista.

Prós

  • Experiência agradável graças à direção artística e trilha sonora;
  • Narrativa em forma de conto de fadas;
  • Exploração e puzzles quase sempre bem-resolvidos.

Contras

  • Alguns puzzles exigem precisão ao ponto de serem frustrantes;
  • Ocasionais quedas graves de desempenho.

Song of the Deep — PS4, XBO e PC (Win) — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PlayStation 4

Revisão: Luigi Santana

Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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