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Análise: Hard West (PC) mostra o lado sobrenatural do faroeste

Com história envolvente e combate divertido, o jogo se mostra uma ótima surpresa no gênero.

Fruto de uma bem-sucedida campanha no Kickstarter, Hard West (PC), lançado na última quarta-feira, 18, e disponível também para Mac e Linux, é um jogo de estratégia por turnos desenvolvido pela Creative Forge Games. O jogo retrata várias histórias no faroeste americano, mas com um diferencial: o diabo está na terra e busca fazer o possível para destruir o mundo em que vivem os personagens.

Em meio a diversos estágios dentro da campanha principal, cada um com seus diferencias e protagonistas, o jogador é levado para esse ambiente arrebatador, com muitos riscos, truques e tiroteios. Com meta original de US$ 70 mil, o jogo arrecadou mais de US$ 94 mil em sua campanha. Apesar do valor modesto em comparação a outros títulos, o jogo possui uma quantidade grande de conteúdo e história.

Oeste infernal

Logo que iniciamos a campanha, apenas um dos estágios está disponível. Nele, conhecemos dois personagens recorrentes na trama: Pai e Warren. Após um ataque brutal, no qual jogamos o curto tutorial, que culmina na morte da mãe de Warren, somos levados para o desenvolvimento da história em si.

O único personagem comum a todas as histórias é a Morte, que narra os acontecimentos durante os estágios. Sua narração é excelente devido ao ótimo trabalho do dublador. Infelizmente, nenhum outro personagem possui voz em momento algum. Todas as cutscenes, em forma de imagens levemente animadas, são contadas apenas pela Morte. Algumas histórias se entrelaçam, outras não possuem conexão alguma, parecendo um tipo de conto.

Nesse mundo, além dos xerifes e foras da lei, figuras demoníacas estão por todos os lados. A ótima ambientação contribui bastante para esse quesito. Durante os oito cenários da campanha, o jogo nos leva a bares, tribos indígenas, quartéis, bancos e por aí vai. A lista é bem variada e boa parte dos locais possuem caminhos alternativos para abordagens distintas. Em um deles, por exemplo, o jogador tem a opção de atacar a frente de uma mansão ou buscar a chave de acesso ao portão dos fundos, o que demanda mais tempo, mas também pode lhe salvar de ferimentos fatais. 

Em busca de ouro e vingança

A jogabilidade de Hard West se divide em duas: fora de combate, em que o jogador controla uma caveira acima de todo o mapa, e o combate em si. Com a caveira, você pode ir às mais variadas localidades, conversar com pessoas por meio de textos, comprar armamentos e comida, e realizar os objetivos necessários para dar continuidade à história. Esse aspecto é bastante interessante e permite abordagens diferentes, graças aos objetivos opcionais disponíveis. Aqui, é possível melhorar seus personagens, conseguir novos integrantes para seu grupo e até mesmo evitar combates com o uso de diplomacia ou suborno.

Cada estágio possui um diferencial em relação aos seus protagonistas. Warren, por exemplo, precisa destruir o máximo possível de construções do Homem Mascarado, enquanto Cassandra tema habilidade de prever o futuro, que é controlada por uma barra de exaustão. Esses aspectos conferem uma independência de cada estágio, além de adicionarem um desafio interessante aos momentos fora de combate.

Nesse momento, Hard West revela seu ponto mais fraco: o excesso de textos. Todas as histórias e diálogos são contados por meio de textos durante as explorações dos cenários e interações com outros personagens. Por conta da exploração fora de combate tomar um tempo considerável dependendo da situação, a vista do jogador pode cansar após longos períodos de jogo. Nesses momentos, a Morte pouco narra, então a monotonia pode ser um problema. Como a única opção de idioma disponível é o inglês, os jogadores com pouco ou nenhum conhecimento da língua certamente não se sentirão atraídos, pois muitas vezes poderão ser prejudicados por alguma ação inadequada, que ele nem imaginava estar realizando. 

Ricochete, sangue e sorte

Após esses momentos, o jogo nos leva para o combate em turnos, que lembra muito outro ótimo representante do gênero, Xcom: Enemy Unknown. Em Hard West, os estágios se separam em dois momentos distintos: preparação e ataque.

Durante a preparação, nossos personagens possuem apenas um ponto de ação e podem andar livremente pelo cenário para realizar os objetivos definidos, desde que não atraiam a atenção dos inimigos. É possível render adversários isoladamente para evitar que o alarme dispare, mas isso não dura por muito tempo.

Caso o jogador ataque alguém ou o adversário reaja, o combate se inicia, e agora todos possuem dois pontos de habilidade. Cada personagem tem, no máximo, duas armas, dois itens utilizáveis e um item passivo, além dos níveis de vida e sorte. A sorte é fator determinante para sobrevivência e uso de habilidades em Hard West. Quanto maior sua sorte, maiores as chances de o inimigos errar o disparo. À medida em que os disparos erram, você perde sorte, e as chances de ser acertado aumentam. Caso seja alvejado, parte da sua sorte se recarrega. Alguns itens, além de curar, também aumentam a sorte momentaneamente. 

Observar os níveis de sorte também é importante para evitar que uma habilidade importante não possa ser usada em determinado momento. Durante a análise, acabei perdendo toda uma missão por me expor a vários inimigos e não possuir sorte o bastante para usar a habilidade de atirar em todos ao mesmo tempo.

Nos mapas, existem diversos pontos de meia cobertura e cobertura total. Utilizar esses pontos é fundamental para que, caso seja alvejado, os danos sejam diminuídos. Normalmente, cobertura total causa pouco dano, enquanto em meia cobertura, recebemos metade. Cada arma possui um nível de dano causado em todas as situações possíveis. Um recurso interessante está nas informações de tiro, que explicam detalhadamente o porquê daquele tiro causar menos dano do que deveria.

Após cada missão concluída, recebemos algumas cartas para serem distribuídas entre os membros do grupo. Essas cartas melhoram os status dos personagens, além de conferirem habilidades interessantes, como o ricochete, que permite atingir um inimigo fora da linha de visão, e o tiro certeiro, que causa dano total da arma em qualquer adversário visível, esteja ele em cobertura ou não. O uso balanceado dessas cartas garante que o seu grupo estará preparado para situações bastante complicadas. Como elas podem ser trocadas a qualquer momento, desde que fora de combate, é possível ajustá-las para as mais variadas situações.

Marcas de guerra

Antes de cada cenário, o jogador pode escolher o nível de dificuldade (fácil, médio e difícil) e duas variantes opcionais interessantes: Feridas de Combate e Homem de Ferro.

Na primeira, caso seu personagem leve algum ferimento grave, mas sobreviva, ele irá ganhar alguns status negativos, como redução da vida ou menos movimentação. Fora de combate, se pode visitar um médico e curar esses ferimentos. Caso opte por não, após algum tempo, o personagem irá ganhar uma cicatriz, mas também um bônus, É uma opção bastante interessante e permite uma boa variação entre os membros do grupo. Um dos meus personagens, por exemplo, ganhou o status “crânio fraturado”. Na missão seguinte, ele ganhou a cicatriz “olho perdido”, o que melhorou sua mira e aumentou em um ponto sua vida.

Já a opção Homem de Ferro é para jogadores mais determinados: caso um personagem fundamental para a história seja morto, toda a fase terá que ser reiniciada. É uma opção arriscada e indicada apenas para aqueles que já possuem algum domínio do jogo. Nem todos os personagens são fundamentais, mas caso um descartável seja morto, ele jamais irá retornar, o que diminui o tamanho do seu grupo e, consequentemente, a variedade de abordagens a uma missão. 

O arsenal é bastante variado e conta com armas de curta e longa distância. É preciso controlar a munição utilizada, pois recarregar exige o uso de um ponto de ação, ou seja, é impossível andar, recarregar e atirar no mesmo turno. Rifles de precisão, em geral, só possuem uma bala, logo, posicionar seu sniper em um lugar apropriado e com boa cobertura é fundamental.

Beleza problemática

Os cenários de Hard West são bem bonitos, e os modelos dos personagens são interessantes, mas a falta de uma opção de zoom afasta as chances de conferirmos mais de perto os detalhes. A exceção está nos modelos de demônios, que, fora as vestimentas, são todos idênticos. Durante a análise, presenciei apenas alguns bugs, um deles bastante sério. Nos inventários das lojas, a barra de rolagem não vai até o final das opções, deixando alguns itens escondidos e quase inacessíveis. Alguns deles também sumiam dos inventários mesmo após a compra.

Contudo, o momento mais grave foi quando, após cumprir uma missão, estava fora de combate e a opção de acessar o próximo local não aparecia. O local estava demarcado, mas os comandos não funcionavam. Reiniciei o jogo várias vezes, mas tive que acabar recomeçando o estágio do zero para resolver, perdendo todo meu avanço até aquele momento. Esses problemas podem ser facilmente resolvidos com o lançamentos de patches.

Tiroteio cativante

Hard West possui uma série de opções atraentes para seus jogadores. Seja a ótima história, os personagens com motivações cativantes ou a bela ambientação, tudo isso culmina em um produto interessante e elogiável por conta de seu orçamento tão limitado. O jogo não possui multiplayer de qualquer natureza, o que deixa a experiência um tanto solitária, pois seria bastante divertido combater seus amigos no Velho Oeste. Ainda assim, é recomendado para fãs do gênero ou para quem sempre quis saber como seria uma invasão demoníaca em pleno faroeste.

Prós

  • Ótima ambientação;
  • Combate divertido e variado;
  • Uso das cartas confere um diferencial para seus personagens;
  • Objetivos específicos garantem bônus interessantes.

Contras

  • Sem multiplayer;
  • Alguns bugs irritantes.

Hard West — PC — Nota 8.0
Revisão: Henrique Minatogawa
Capa: Daniel Serezane

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