Resenha

The Witcher: Tempo do Desprezo tem muita intriga e ação

O quarto livro da série continua a aventura e desenvolve mais os vários personagens.

A série de livros The Witcher é bem curiosa por conta de sua estrutura. Os dois primeiros livros são coletâneas de contos e servem como introdução para o universo e personagens. Já no terceiro volume em diante, a franquia se transforma em romance e muda de foco. Tempo do Desprezo é o quarto livro da série e continua exatamente onde O Sangue dos Elfos parou. O foco ainda é Ciri e sua jornada em um mundo repleto de conflitos e complicações.

Sobrevivendo em um mundo complicado

Ciri é uma garota que tem uma vida complexa: princesa de um reino destruído, ela foi prometida ao bruxo Geralt como pagamento. Além disso, a garota tem grandes capacidades mágicas e é tema central de uma profecia que pode mudar o mundo — ela supostamente tem o poder de destruir ou renovar tudo. Por conta disso, reis e feiticeiros anseiam colocar as mãos em Ciri, para tentar alcançar seus próprios objetivos.

Em Tempo do Desprezo, Ciri está sob a proteção da feiticeira Yennefer, que ensina magia à garota. Com os conflitos entre os reinos se intensificando, Yennefer decide levar a princesa para uma escola de feitiçaria. Já Geralt tenta descobrir quem está tentando assassiná-lo e por quais motivos, ao mesmo tempo em que tenta proteger Ciri dos inúmeros perigos que a cercam, mesmo que indiretamente. Em busca de seus objetivos, os três, eventualmente, acabam se encontrando.


— E quem eu devo desprezar? — interrompeu-o o bruxo. — Em troca daquilo que amo, devo pagar o preço de ter desprezo por mim mesmo? Não, Codringher. Deixe aquela criança em paz, medindo e cortando os tecidos. Destrua seu retrato.  (Pág. 43)

Feiticeiros e intrigas entre reis

O destaque da história continua sendo Ciri por conta de sua personalidade forte e grande curiosidade. No decorrer da trama, ela se desenvolve mais e se torna ainda mais interessante, principalmente nos momentos finais. Infelizmente, outros personagens, como Yennefer e Geralt, pouco crescem em Tempo do Desprezo. Contudo, a trama é bem interessante e envolvente, o que faz com que esses pequenos problemas atrapalhem pouco a experiência.

O mundo de The Witcher continua sendo explorado e expandido. Dessa vez, conhecemos melhor como os feiticeiros se organizam e seu grande papel na sociedade e reinos. Os conflitos também se intensificam e questões políticas e sociais são abordadas o tempo todo — destaque para os trechos que mostram o ponto de vista de Nilfgaard, o império por trás de todas as batalhas e matança. É uma trama repleta de traição, mentira e manipulação.

Já a narrativa continua leve e interessante. Ao contrário do livro anterior, a progressão está mais suave e não parece mais um monte de contos costurados. O texto consiste, em sua maioria, de diálogos, o que torna a leitura fácil. Gostei especialmente das cenas de ação e luta: o autor sabe descrever bem esse tipo de situação e descreve tudo com riqueza de detalhes e clareza.


Azul e Elmo Alado chocaram-se com grande estrondo. O machado era mais perigoso, porém a espada, mais rápida. Azul recebeu um golpe no ombro, e um fragmento da ombreira metálica saltou no ar, virando cambalhotas e fazendo esvoaçar as tiras de couro; o cavaleiro balançou na sela, e filetes carmíneos brilharam na armadura azul-celeste.  (Pág. 306)

Problemas conhecidos

Infelizmente, Tempo do Desprezo ainda carrega alguns problemas do volume anterior. O primeiro deles é o ritmo bagunçado: o clímax da história acontece no meio da obra. Por conta disso, o final parece incompleto, inconclusivo e sem graça, como se o autor tivesse decidido deixar a história pela metade. Outro problema acontece em momentos de explicações políticas. São trechos arrastados, confusos e cansativos por conta da grande quantidade de termos desconhecidos e mal explicados — é difícil acompanhar com facilidade as mil relações entre os inúmeros reinos desse mundo.


Por fim, Tempo do Desprezo intensifica ainda mais a confusão de identidade da série. Os dois primeiros livros focam-se em Geralt e suas caçadas, e têm contos interessantes e variados. Já os volumes seguintes tecem uma trama complexa, fundada em destino e conflitos políticos e militares. Enquanto a história de Ciri é muito interessante e instigante, é um pouco decepcionante não explorar mais a questão dos monstros e a dualidade de personalidade de Geralt — o bruxo era um ótimo personagem no início da franquia, agora lembra mais um aventureiro qualquer.

Uma aventura divertida

Tempo do Desprezo é uma boa continuação. O texto flui bem, a trama é envolvente, os personagens são interessantes (principalmente Ciri) e as cenas de ação são bem pensadas e construídas. É interessante conhecer mais sobre alguns aspectos desse universo, em especial o papel dos feiticeiros. Os conflitos e questões políticas podem ser um pouco confusos de entender, mas não atrapalham a experiência geral. Assim como o anterior, seu maior problema é o final morno e inconclusivo — é uma pena ver que os bruxos e Geralt foram deixados meio de lado. Se você gosta da série, não pode deixar de conferir Tempo do Desprezo.

Revisão: Jaime Ninice
Capa:Diego Migueis


é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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