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Análise: Red Goddess: Inner World (PC/PS4) é belo, porém enfadonho

Entre na mente de uma jovem deusa e tente sobreviver a esse metroidvania nada memorável.

Metroidvania é um gênero que tem sido muito explorado pelos desenvolvedores independentes por conta de suas características positivas. Mas nem sempre utilizar esse estilo garante uma aventura memorável ou divertida. Red Goddess: Inner World é um título para PlayStation 4 e PC que cai justamente nessa categoria de metroidvanias repletos de boas intenções, mas que não deram muito certo.

Explorando a própria mente

Divine é uma jovem deusa que está em sono profundo. Um grande trauma no passado fez com que ela entrasse nesse estado, acontecimentos graves que ela não consegue mais lembrar. Durante seu descanso, ela sente que algo dentro dela está errado e que sua alma e mente estão sendo destruídas. Sendo assim, ela decide entrar em seu próprio subconsciente e acaba em um lugar que representa sua mente e memórias. Divine decide explorar esse mundo a fim de recuperar suas memórias, entender quem ela é e o que aconteceu no passado.

Essa é a premissa para que a jovem deusa explore cavernas, enfrente inimigos e colete itens, em uma aventura nos moldes do gênero metroidvania. A intenção dos desenvolvedores era criar uma narrativa forte, repleta de momentos marcantes e superação pessoal, mas no fim das contas é somente uma trama sobre uma garota desmemoriada que fica andando pra lá e pra cá — a narrativa não empolga, principalmente por conta da falta de carisma dos personagens.

Cavernas limitadas

O principal objetivo de Divine é recuperar sua memória e para isso ela precisa recuperar vários cristais espalhados pelo mundo. Sendo assim, a garota explora inúmeros locais repletos de sessões de plataforma e coleta de itens. Conforme avança na aventura, ela ganha novas habilidades que permitem acessar locais anteriormente indisponíveis.

Os problemas de Red Goddess já começam nesse ponto. O primeiro deles diz respeito ao desenho dos níveis: é tudo muito simples, linear e previsível, os desafios são desprovidos de inspiração. Para piorar, o pulo da protagonista é um pouco estranho, o que resulta em falta de precisão justamente nos momentos mais necessários. Divine adquire algumas habilidades sempre presentes no gênero, como um pulo duplo e a capacidade de se agarrar a plantas nas paredes, mas o uso dessas técnicas é trivial e desinteressante.

Design duvidoso e bugs

Tudo isso, aliado a certas decisões de design, gera situações muito irritantes. O principal problema são as mortes injustas: em muitos momentos de plataforma, é necessário saltar para locais nos quais não é possível ver o destino — cansei de pular para baixo e cair na lava ou em espinhos, pensando que encontraria o chão. Para piorar, os checkpoints são bem espaçados, sendo necessário jogar novamente longos trechos de pulos imprecisos e confusos.

Metroidvanias são conhecidos pela sua liberdade de exploração, só que Red Goddess não tem essa característica. Muitos pontos do cenário estão bloqueados por portas que exigem um número limitado de cristais, que nada mais são que maneiras nada criativas de limitar o progresso da aventura. Encontrou um portal e ainda não tem o número de cristais suficientes para avançar? Basta abrir o mapa e ir atrás do item mais próximo. Para piorar, praticamente todos os cristais estão em locais de fácil acesso e exigem pouco esforço.

Por fim, Red Goddess é repleto de bugs: são coisas como travamentos, gráficos que não carregam direito, personagens presos no cenário e objetos se movendo de maneira estranha. Essas inconsistências costumam acontecer justamente em momentos no qual a precisão é necessária, o que torna a experiência de jogo frustrante. Alguns problemas são tão graves que em muitos momentos eu tive que reiniciar o jogo para conseguir avançar. A sensação que se tem é que o jogo não passou por um controle de qualidade.

Batendo em inimigos até cansar

Quando não está pulando (e caindo em espinhos), Divine enfrenta inimigos — que são a personificação de seus  “pensamentos sombrios”. Para lutar, a deusa conta com duas personas que representam o medo e a raiva da personagem. É tudo bem simples: para derrotar monstros vermelhos, use o modo raiva; já os inimigos azuis só podem ser feridos pelo modo medo. Essa dualidade de modos de combate parece ter sido claramente inspirada em Outland (Multi) e Ikaruga (Multi).

Mas assim como as mecânicas de plataforma, o combate de Red Goddess é enfadonho. Não existe estratégia: basta mudar para a cor correta e apertar o botão de ataque loucamente que em pouco tempo os inimigos serão derrotados. A variedade de inimigos é mínima e todos podem ser destruídos da mesma maneira. Para piorar, nem sempre o combate funciona direito: em muitos momentos meus ataques acertavam os inimigos, mas eles não sofriam danos. A personagem até ganha algumas outras técnicas de combate, mas elas pouco ajudam em trazer variedade e profundidade às batalhas.

Beleza exótica

Os destaques de Red Goddess são o visual e a música. Mesmo com modelos simples, o jogo conta com bons gráficos e ótima direção de arte — um filtro distorce as cores do mundo, o que torna o visual bem único e interessante. Já a trilha sonora conta com belas composições repletas de cordas e sintetizadores, que ajudam a criar uma atmosfera etérea e curiosa. Combinados, essas características constroem bem a temática de uma deusa explorando seu mundo interior.

Perdido no subconsciente

Red Goddess tenta ser um bom jogo, mas falha em praticamente todos os aspectos: a história é desinteressante, a exploração é sem inspiração e o combate não oferece diversão alguma. Para piorar, o título tem inúmeros bugs e problemas técnicos que comprometem ainda mais a experiência. O visual e música são bons, mas não são suficientes para compensar os defeitos. Por conta de tantos problemas, é difícil recomendar Red Goddess: Inner World.

Prós

  • Ótimo visual;
  • Boa trilha sonora.

Contras

  • Combate desinteressante e repetitivo;
  • Desenho de níveis monótono e sem inspiração;
  • Muitos bugs e problemas técnicos.
Red Goddess: Inner World — PC/PS4 — Nota: 5.5
Versão utilizada na análise: PC
Revisão: Alberto Canen
Capa: Felipe Araujo

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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