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Análise: Brighter Day (PC), um survival horror diferente

Com uma proposta que contradiz o gênero ao qual pertence, o jogo da The Loneliest Pixel dá um show de inovação e garante bons sustos


Qual é a primeira coisa que nos vem à cabeça quando jogamos ou lembramos de um survival horror? Atmosfera sombria? Zumbis? Carnificina? Violência? Apocalipse? Certamente um pouco disso tudo. Mas por que não uma atmosfera colorida e amigável? Por que não um olho desmembrado gigante ao invés de zumbis?

Isso foi um pouco do que o jogo Brighter Day (PC) trouxe. Por mais que mudanças na sua ambientação e atmosfera não remetam em nada àquilo que vimos no gênero até agora, o constante medo e terror psicológico continuam lá. Fora o fato de que o jogo também reinventa com sucesso muito do que já foi feito antes por outros jogos do gênero.

Enredo? Diga-me você!

Brighter Day tem um enredo? Não necessariamente um e sim vários. Assim como em Half-Life (PC), não existe uma misera cutscene que conte a história do jogo, mas o ambiente ao seu redor faz isso, seja por rabiscos na parede, cartazes colados nos corredores ou as várias conversas de chat que você encontra abertas em computadores. O jogo é extremamente interpretativo, então a forma de “enxergar” a história e o contexto da obra é relativo.

O que lhe situa na trama são elementos bem sugestivos, por exemplo: logo no início do game, você acorda em um cômodo decorado com bonecas e bandeirinhas coloridas, sugerindo que a protagonista é uma menininha. Ou, um pouco mais a frente, uma placa no exterior do complexo denuncia que você estava em um centro de tratamento para jovens.
Isso é rosa de mais...
Você tem certeza de muito pouco ou quase nada, o que lhe obriga a costurar uma trama em sua massa cinzenta com as poucas peças do quebra-cabeça que você acha pelo caminho. Isso é muito interessante e dá espaço para um longa discussão. Considerando que o jogo progride na medida em que você explora o ambiente em que ele se situa, não seria exagero dizer que seu objetivo é deixar o local que dá nome à obra.

Uma dessas peças curiosas que constitui o quebra-cabeça são as cartas de Tarot. Com ilustrações de coelhos na frente e manuscritos atrás, as cartas juntas parecem revelar um grande segredo assim que todas forem encontradas. Se é uma dica sobre jogo ou um detalhe do enredo, isso é um mistério. Apesar de tudo, colecioná-las é opcional.
Coelhinho, se eu fosse fosse como tu...

Quando a sobrevivência e o stealth se encontram

Apesar da movimentação da personagem travar em alguns momentos, a jogabilidade é boa. Ela mistura elementos de stealth com características tipicas do gênero survival horror. Um exemplo são as pilulas e a luz, que a princípio são inofensivas, mas considerando o fato de o jogador ter que transitar pelos ambientes do jogo despercebido (para não atrair a atenção dos seus inimigos), elas demonstram grande utilidade ao distrair os adversários.

A “sobrevivência” e a sua “invisibilidade” perante os monstros também se esconde no level design. São inúmeros esconderijos dando sopa e salas secretas que guardam desde pílulas a outros itens que lhe podem ser úteis no momento adequado. Tudo é bem convidativo e colorido graças à ótima direção de arte (apesar dos gráficos meia-boca). No entanto, a presença do inimigo e a trilha sonora vão te fazer pensar duas vezes antes tomar uma atitude.
Pernas pra que te quero!
Por falar na trilha sonora, ela é bem original. O ritmo das músicas acompanham seus movimentos e as empreitadas do inimigo, o que as configuram como efeitos sonoros também. Ela te prende ao jogo, aumenta a sensação de perigo, torna a experiência mais imersiva. Sem ela, a ambientação colorida e a bizarrice não seriam de nada.

Quanto ao inimigo, o olho gigante, o jogo em si não revela muito sobre ele. De onde surgiu e o que faz, quase nada. O que se sabe é que  a função dele é claramente te perseguir. Os chats escondidos pelo jogo também os citam como uma espécie seguranças/agentes do local… Basicamente eles são os caras que lhe colocariam uma camisa de força, caso estivesse em um hospício. Não é à toa que se distraem facilmente com as pílulas e luz.
Olá, você teria um minuto para ouvir sobre o olho de Deus?

Medo, tortura… Chame como quiser

É muito fácil deixar se levar pelo jogo. Ele causa inúmeras sensações no jogador: vertigem, encanto, pena… No entanto, a que se destaca é o medo. O jogador não necessariamente sente medo do inimigo, afinal, um olho gigante não é algo necessariamente assustador (surreal, talvez; bizarro, com certeza). Mas a ideia de estar sendo perseguido e constantemente vigiado é um dos fatores que causam medo.

Não somente isso, mas não faltam momentos estranhos de temas diversificados no título. O jogo vai muito além de um ambiente “hospitalar” e não seria exagero dizer que o desconhecido não só é surpreendente como também aterrorizante. E, convenhamos, a trilha sonora também rende bons sustos.
"Brighter Day"... Só que não.

Lembrando ainda que não somente é fácil deixar se levar pela obra, como também não é um feito impossível incorporar o personagem. A visão em primeira pessoa e a ausência de qualquer diálogo ajudam bastante. Você não se apega à personagem, mas se imagina no jogo.

Uma maravilhosa e “aterrorizante” experiência

Brighter Day é certamente um jogo muito bom, sem exageros, espetacular. Assim como os jogos da série Amnesia (PC) e Five Nights at Freddy’s (PC, Mobile), a obra contribui trazendo algo de novo para gênero, nesse caso sua dissonância visual e os novos ares estéticos.
Tão bonito que me fez chorar...
A mistura de uma ambientação colorida com uma trilha sonora e level design bem planejados serviram de uma ótima base. O enredo? Incrível, mesmo que não seja linear. Sem falar que a diversidade de temas abordados na obra esbanjam muita criatividade. E o preço do jogo é razoável.

Todavia, há alguns problemas na obra da The Loneliest Pixel. O visual é muito bom, mas poderia ser melhor. Os gráficos são ruins e a falta de texturas são quase um pecado, mas a direção de arte do jogo compensa. Eles pegaram polígonos sem textura e transformaram em arte. A movimentação da personagem, que também inclui ações simples como o pulo, travam às vezes na jogatina. Não chega a ser um empecilho para aproveitar a experiência, mas pode ser frustrante.
Está na hora de dar tchau!
Enfim, o jogo indie é mais que um belo achado, é uma experiência inovadora que merece estar na área de trabalho de qualquer gamer. Para quem busca algo completamente novo, surpreenda-se! Para quem é fã do gênero, encante-se.

Prós


  • Inovador;
  • Ótima trilha sonora;
  • Ambientação colorida e diversidade de temas;
  • Ótima direção de arte;
  • Level design bem planejado;
  • Enredo não linear.

Contras


  • Falta de texturas;
  • Trava em alguns momentos.


Brighter Day — PC — Nota: 8.5

Revisor: Alberto Canen
Capa: Guilherme Kennio


Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
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