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Análise: The Binding of Isaac: Rebirth (Multi) é uma aventura macabra e viciante

O polêmico título indie mistura exploração e tiro, e conta com muito conteúdo e variedade.


O que fazer quando a sua mãe quer te matar para poder provar lealdade à uma voz divina? O garoto Isaac foge por um alçapão no chão do quarto e vai parar em um lugar repleto de monstros, tendo como arma somente as suas lágrimas e sofrimento. Essa é a premissa de The Binding of Isaac: Rebirth, uma aventura bizarramente viciante e repleta de conteúdo profano. Lançado para PC, PS4 e PS Vita, Rebirth é uma espécie de remake do título original, contando com visual baseado em títulos da era 16 bits e uma quantidade imensa de conteúdo.

Uma jornada sombria

Isaac é um garoto que vive tranquilamente com sua mãe, que é uma religiosa fervorosa. Um dia, a mulher ouve uma voz divina, que diz que seu filho foi corrompido pelo mal. Para purificá-lo, a mãe confisca os brinquedos, jogos, desenhos e até mesmo as roupas do garoto. A voz volta a dizer que Isaac está corrompido. Sendo assim, a mulher o tranca em seu quarto.


Mas nada disso foi suficiente para acalmar a entidade divina. A mãe de Isaac ouve a voz mais uma vez que exige que o garoto seja sacrificado como prova de devoção. A mulher então pega uma grande faca e se dirige ao quarto do menino para matá-lo. Isaac espia por uma fresta na porta e se desespera quando vê sua mãe com uma grande faca. Ele encontra um alçapão escondido em seu quarto e decide fugir por ali. Isaac descobre então um grande labirinto repleto de criaturas bizarras e vai fazer de tudo para sobreviver.


A trama e o nome do jogo referenciam a passagem bíblica na qual Deus testa a fé de Abraão, pedindo que ele sacrifique seu filho Isaque. O título critica fortemente a religião e está repleto de passagens perturbadoras e profanas. Isso fez com que o jogo fosse alvo de críticas e afastou inúmeros jogadores.

Explorando um subterrâneo macabro

The Binding of Isaac: Rebirth combina vários conceitos diferentes: o jogo é uma mistura de aventura e tiro, com características do gênero roguelike moderno, como estágios gerados aleatoriamente, morte permanente e itens que são desbloqueados para partidas futuras. Nu e indefeso, Isaac ataca os monstros com suas lágrimas — sim, ele basicamente chora para cima dos inimigos. O analógico esquerdo controla o personagem, enquanto o direito ou os botões principais atiram os projéteis. Isaac também pode coletar bombas para explodir inimigos e obstáculos.


Cada estágio é composto de inúmeras salas interligadas com um chefe esperando no final do andar, de maneira similar aos calabouços da série Zelda. Vários perigos estão espalhados pelos locais, como inimigos e armadilhas. Salas secretas, lojinhas e outras coisas parecidas também aparecem nos calabouços. Para avançar na maioria das salas, é necessário derrotar todos os monstros. Os controles são simples e precisos, mas o desafio é constante — nos estágios mais avançados da aventura a tela fica infestada de tiros inimigos, exigindo muita destreza para não morrer. Pelos labirintos é possível encontrar vários itens que modificam as habilidades de Isaac, aumentando, assim, a chance de sobreviver. As primeiras partidas são bem frustrantes, mas com o tempo você aprende as nuances do jogo e tudo fica bem mais divertido.

Jogando loucamente e se tornando um ser estranho 

The Binding of Isaac: Rebirth vicia rapidamente. Isso acontece por conta da aleatoriedade aliada à jogabilidade simples, mas divertida. Cada partida é única e apresenta calabouços, inimigos, itens e chefes distintos. Conforme você avança mais no jogo, novos objetos, estágios e personagens vão sendo liberados. Além disso, existe um modo de desafio que muda sensivelmente as partidas e também é possível utilizar seeds — um conjunto de caracteres que permite repetir estágios e itens, juntamente com senhas especiais que também modificam o jogo. O título também conta com um simples modo para dois jogadores: uma segunda pessoa controla um pequeno fantasma, ajudando Isaac.


O jogo tem uma quantidade absurda de conteúdo: mais de 500 itens podem ser adquiridos e desbloqueados. Por conta disso, cada partida é bem única. Em uma jogada, por exemplo, Isaac pode vomitar sangue, ter asas de morcego e ser protegido por um grupo de moscas gigantes. Já em outra partida, o garoto pode atirar lágrimas teleguiadas flamejantes, enquanto é acompanhado por aranhas que atacam os inimigos próximos. O mais interessante é que cada item muda a aparência de Isaac, o que o torna praticamente irreconhecível no fim da aventura depois de pegar tanta coisa estranha pelos labirintos.

É legal ter uma variedade grande de itens e power ups, mas The Binding of Isaac tem um problema grave em relação a eles: boa parte dos objetos não têm descrição clara de seus efeitos. Por exemplo, existe um item chamado Umbilical Cord (cordão umbilical) que tem como descrição “fetal protection” (proteção fetal)... e só. Precisei pesquisar na internet para descobrir que o objeto em questão gera um ajudante quando Isaac está com pouca energia. Em muitos momentos eu troquei um item por outro sem saber exatamente se ele me trazia alguma vantagem interessante ou não. E para complicar, a descrição aparece somente no momento em que um item é adquirido. A aleatoriedade de itens também pode acabar gerando partidas repletas de power ups medianos que, em conjunto com a falta de explicação dos efeitos dos itens, pode deixar as coisas meio frustantes ou muito difíceis.

Aventura desconcertante

The Binding of Isaac: Rebirth não tem um clima agradável, muito pelo contrário: o jogo é repleto de coisas nada legais como sangue, vísceras, vômito e excremento… em grandes quantidades. Para completar, os inimigos consistem de coisas bizarríssimas como bebês sangrando, pessoas cheias de tumores imensos e cocôs gigantes. Além de profanar o cristianismo o tempo todo, existe uma carga negativa muito forte em vários momentos. Um exemplo é a tela de carregamento entre os estágios: Isaac está deitado no chão, chorando, com um balão de pensamento mostrando cenas tensas que retratam bullying, discriminação e humilhação. Muitos dos vários finais do jogo também não são nada felizes.

Essa ambientação é bem desagradável e pode afastar muitos jogadores — eu mesmo quase deixei de jogá-lo por conta desse visual meio nojento e da temática. Mas, pouco a pouco, eu deixei de notar essas coisas e fiquei viciado na aventura — só queria saber de destruir as criaturas, encontrar os itens bizarros e chegar cada vez mais longe.

Profanamente divertido

Relevar seus preconceitos é essencial para aproveitar The Binding of Isaac: Rebirth. A temática pode parecer pesada, mas por trás disso temos um jogo divertido, variado e viciante. É muito legal começar a aventura com um quase indefeso garoto chorão e terminar controlando um ser visualmente bizarro e poderoso. A aleatoriedade pode deixar algumas partidas bem difíceis e a falta de informações dos itens atrapalham a experiência, mas são contornáveis. Tome cuidado ao adentrar o mundo de The Binding of Isaac: Rebirth, existe uma grande chance de você não conseguir mais sair.

Prós

  • Quantidade imensa de conteúdo;
  • Jogabilidade básica simples e acessível;
  • Cada partida é única e diferente;
  • Fator replay alto;
  • Dificuldade na medida certa.

Contras

  • Poucas informações sobre os itens;
  • Fator sorte pode atrapalhar algumas partidas;
  • Temática e direção de arte podem afastar jogadores.
The Binding of Isaac: Rebirth — PC/PS4/PS Vita — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: PS Vita
Revisão: Marcos Silveira
Capa: Daniel Silva

é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
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