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Análise: Chariot (Multi) inova com um power-up imprevisível: um peso de papel

Já imaginou desbravar perigosos ambientes subterrâneos apenas para cumprir as exigências de um finado monarca? Pois então conheça seu melhor amigo: um caixão.

Tão impensável quanto a pá de Shovel Knight e tão genial quanto qualquer power-up de Mario, a nova habilidade que Chariot integra à sua tradicional mecânica de plataforma em progressão lateral é nada menos do que um pesado (e aparentemente inútil) caixão. No comando da personagem Princess, você deverá levar o "paletó de madeira" do rei até um lugar adequado para seu funeral. No caminho, obviamente, uma fantástica aventura repleta de enigmas, inimigos e desafios lhe aguardam. Tudo construído genialmente por visuais incríveis e com a possibilidade de jogar em dupla.


Morrer como se deve

O que é pior do que ter que aturar os exageros de um monarca a vida toda? Ter que, depois de tudo isso, obedecer a suas exigências no pós-morte! No mundo de Chariot, o rei está morto, mas sua forma astral lhe permite ordenar que você leve seu caixão até o local ideal para ser enterrado. Para atender à demanda do rei, Prince precisa carregar a mortuária da realeza por todo o trajeto, que conta com ambientes sempre interessantes.
O enredo não é complexo, muito menos vai se tornando mais profundo com o andar da carruagem. Trata-se apenas de uma premissa básica, uma motivação para fazê-lo superar tantos desafios. Lógico que um jogo de plataforma não precisa de uma história do nível da série Kingdom Hearts, mas, acredite, ele é até interessante. O melhor mesmo é o tom de comicidade e a temática pós-morte que o jogo traz em menus e personagens coadjuvantes.

Na vida real

Já dissemos que o roteiro não é lá o forte de um título de plataforma? Pois bem, então vamos ao que é de fato fundamental: a mecânica de jogo. Em Chariot, controlamos Princess por vários desafios de plataforma e alguns adversários para derrotar. A jogabilidade é bem intuitiva, sobretudo no que se refere ao controle do caixão. Quando estiver próximo à mortuária, você pode puxá-la por um corda. Também dá para empurrar e conter a velocidade do caixão ou mesmo usá-lo como plataforma para alcançar locais mais altos e montar nele em ladeiras para descer em alta velocidade.
Levar o caixão até o fim da fase pode ser fácil às vezes...
Não demora muito para o caixão se tornar uma parte do seu corpo, quase como se fosse um outro personagem ou melhor, um estorvo, mas um estorvo interessante. Como é necessário levá-lo até o final de todos os estágios e apenas com o caixão é possível coletar gemas e joias, acostume-se com ele. E é exatamente isso o que faz Chariot um jogo muito criativo! Cada nova fase explora a relação de Princess e o túmulo do rei, com mecânicas e desafios (quase) sempre únicos! 
... e, em outro momentos, pode ser também um difícil desafio
O "quase" se refere ao tamanho por vezes excessivamente grande das fases, que não têm objetos verdadeiramente interessantes para coletar e possuem muitos trechos com desafios repetidos ou simples demais. Ainda assim, espere por algumas seções geniais e difíceis!

O sagrado matrimônio

Por mais valente e destemida que Princess seja, não faz mal pedir ajuda a seu companheiro Fiancee. Ambos os personagens são jogáveis no modo multiplayer, que deixa Chariot ainda mais desafiante. O mais genial do modo para dois jogadores é que os aventureiros não têm em comum apenas o objetivo final (chegar ao final da fase), mas também precisam cuidar conjuntamente do caixão do rei. O resultado depende da cooperação dos dois jogadores, pois é muito fácil acabarem se atrapalhando mais do que se ajudando.
Mas é justamente essa dificuldade extra do multiplayer que o deixa ainda mais divertido. Acredite, você e seu amigo ou amiga vão gargalhar, se xingar, comemorar e respirar de alívio como nunca em Chariot. No entanto, é fato que o multiplayer pode ser excessivamente confuso em alguns desafios mais exigentes no quesito precisão. Tais momentos, que felizmente são opcionais em sua maioria, cobram ações muito rápidas e reações instantâneas, o que pode ser complicado com duas cabeças pensando ao mesmo tempo.
E jogar em dupla pode ser tanto um exemplo de cooperação...
O saldo, porém, é positivo: Chariot é um daqueles jogos que fazem merecer dividir o sofá com mais um jogador. Só não espere que isso vá facilitar a aventura. Se o seu objetivo for apimentá-la, no entanto, jogar com mais alguém é uma boa dose de desafio!
... quanto uma competição desastrosa!

Coletar ou não coletar?

Como quase todo jogo de plataforma, há itens para que coletar em Chariot. O objeto principal são joias e gemas brilhantes, que funcionam como a moeda do jogo para comprar itens, responsáveis por efeitos e habilidades especiais na aventura. Alguns itens são mais úteis do que outros, mas todos adicionam um toque extra que pode facilitar ou não a sua vida. Mas é necessário também encontrar o projeto do item para poder construí-lo, o que exige uma busca minuciosa pelos cenários. Além deles, há dezenas de caveiras para coletar.

As bugigangas extras, embora bem legais, acabam não funcionando tão bem quanto incentivo para pegar todos os tesouros escondidos pelos cenários. Em primeiro lugar, o tamanho dos ambientes já pode desmotivar os jogadores, pois exigem repetir desafios para poder vasculhar cada canto até encontrar os colecionáveis. Além disso, é possível zerar o título sem nenhuma ferramenta adicional, mesmo que algumas sejam muito indicadas.

Repetir as fases atrás de dinheiro pode não ser tão recompensador assim
Porém, quem curte completar jogos em sua totalidade e customizar seu personagem vai adorar os itens e conquistas que podem ser desbloqueadas. Essas últimas, na verdade, são o elemento de jogo que menos dá vontade de coletar. Elas até têm um menu próprio tematizado, mas não oferecem nenhum prêmio concreto interessante.

Beleza subterrânea

Os vários ambientes de Chariot são reproduzidos por um estilo visual fantástico. Provando mais uma vez que gráficos bidimensionais estão longe de morrer, este jogo mostra que o polimento e a atenção aos detalhes de um estúdio indie podem se equiparar em beleza a plataformers grandiosos como Rayman Legends (Multi) ou Donkey Kong Country: Tropical Freeze (Wii U). Há aspectos muito legais do visual, como detalhes no chão que são alterados quando se passa por eles, e efeitos de luz incríveis.

Jogar Chariot em dupla e numa televisão gigantesca é uma experiência maravilhosa. É possível jogar o jogo inteiramente pelo GamePad, mas não tem a mesma grandiosidade de uma TV HD. A trilha sonora também cumpre muito bem o seu papel, embora não seja tão cativante ao ponto de ficarmos assobiando por aí. No quesito arte, Chariot é, em geral, incrível.

Viagem ao centro da Terra

Do início ao fim, Chariot impressiona. Seja pelos seus visuais bem polidos, pelo seu modo multiplayer desafiante, pelos seus desafios sempre mais criativos, pelo seu humor e temática bem explorados ou mesmo pela profundidade dos estágios, é um jogo indie para se comemorar por estar no Wii U. Ok, as fases podem não ser geniais em todos os momentos e serem até grandes demais, a mecânica pode ser complicada em alguns desafios multiplayer e a coleta de joias pode não ser tão recompensadora, mas o saldo é bem positivo.
Ah... esses gráficos 2D...
Pode ser difícil para Chariot disputar atenção com outros jogos indie de plataforma  incríveis, como Shovel Knight, mas, dando uma chance a esse jogo, ele não deixa a desejar. É possível passar horas jogando o game, ainda mais com uma companhia, curtindo sua esquisita mecânica de puxar um caixão ou seus visuais estonteantes. Então, se tem alguma dúvida sobre o que fazer com aqueles dólares que sobraram de sua última compra no eShop, Chariot é uma ótima escolha.

Prós

  • Mecânica de levar o caixão por todos os lugares é única e genial;
  • Enredo cômico e temática muito bem explorada;
  • Visuais incríveis mostram a beleza do 2D;
  • Jogar em dupla é uma experiência muito divertida;
  • Desafios criativos e variados;

Contras

  • O esquema de puxar o caixão pode ser complicado em alguns desafios multiplayer;
  • Fases excessivamente grandes não são devidamente preenchidas;
  • Pouco incentivo para coletar gemas e joias;
  • Trilha sonora poderia ter sido mais inspirada;
Chariot — Wii U/PS4/XBO/PC — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: Wii U
Revisão: Vitor Tibério
Capa: Felipe Araujo

Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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