Resenha

Video Games: The Movie é o melhor modo de contar a história dos games

Saiba mais sobre a história dos games através deste documentário inaugurado através do Kickstarter, com grandes nomes, incluindo até Sean Astin e outros.

Os videogames são uma das (se não a) mais novas formas de mídia e arte da história. Em 50 anos, eles se desenvolveram de forma incrível, criando uma indústria altamente lucrativa e uma cultura que hoje domina todo o globo. Mas esses míseros 50 anos de história possuem várias nuâncias e momentos memoráveis, estabelecendo um percurso que não sabemos o final. É sobre essa incrível história, da qual muitos de nós fazemos parte, que Video Games: The Movie trata.


O documentário de quase duas horas acompanha o trajeto supersônico dos videogames desde meros brinquedos eletrônicos até estarem incluídos em um universo totalmente novo de interações sociais. Ele apresenta os fatos mais marcantes desde o surgimento da Atari até a criação do  Xbox, passando por tudo e todos, sem deixar nada nem ninguém de lado. A melhor parte é que, além da narração de Sean Astin (o Sam de O Senhor dos Anéis), o documentário conta com entrevistas e falas das mais diversas personalidades, incluindo lendas dos videogames como Hideo Kojima e Nolan Bushnell até personalidades que fazem parte do universo gamer sem necessariamente tê-lo criado, como Ernest Cline, autor do livro O Jogador Nº 1.

Do PDP-1 ao PS4

O documentário é dividido em algumas partes, incluindo História, Cultura, Futuro, entre outras. Um dos pontos mais positivos dele é a neutralidade e união entre as empresas e marcas envolvidas. A história é contada levando em consideração o grau de importância que cada produto ou empresa exerceu na história dos videogames enquanto indústria e enquanto cultura em ascenção. Como foi financiado através do Kickstarter, essa postura fica bem mais verdadeira e é notável durante todo o documentário.

PDP-1: o primeiro computador com tela
Tudo isso com uma direção de arte incrível e uma montagem de clipes sensacional. Foram usados ao longo do documentário cenas de gameplay de diversos jogos de mais de 100 empresas diferentes, desde as multinacionais como a Ubisoft ou a Blizzard até as independentes como a Super Meat Team. Mas tudo é contado de forma clara, mesmo que não necessariamente linear. Os gráficos, porcentagens e informações visuais disponíveis no documentário, além de muito didádicas, também o fazem fugir da monotonia que ronda alguns tipos de documentários.
O Lendário Atari 2600
A linha temporal apresentada em Video Games: The Movie, mesmo citando pontos antes e depois de 1961, começa a história dos videogames com a criação do primeiro computador com recurso visual da história: o PDP-1 (lembrando que a “tela” era de 10 polegadas e redonda, apenas com pontos luminosos nela). Do Tennis for Two, o documentário prossegue passando pelo Atari 2600, pela mítica queda depois do lançamento do jogo baseado no filme E.T.- O Extraterrestre, navega nos anos dourados da Nintendo, chega nos gráficos cada vez mais potentes dos Playstation 1, 2 e 3, e finalmente no lançamento do famoso Xbox 360. É realmente um caminho nostálgico e muito informativo.
"Quando lembramos, não é simplesmente daquele jogo, daquele livro ou daquele filme, mas sim do que estava acontecendo em nossas vidas naquela época". Wil Wheaton (Ator, Escritor)

Somos mais do que mil, somos um

Outro fator importantíssimo dessa obra prima dos documentários sobre games é como ele mostra a importância de cada empresa na história. Sem a Atari, o mundo dos games talvez nunca teria ganhado tanta força. Sem a Nintendo, talvez nunca teríamos sobrevivido ao crash do final dos anos 1980. Sem o PlayStation, os gráficos poderiam nunca teriam dado o salto que eles deram e a imersão e competição nunca teriam adquirido tanta força. Por fim, sem o Xbox, a cultura dos jogos de PC e dos consoles nunca teriam se aproximado tanto. Cada qual na sua época, cada qual com a sua importância, todas foram essenciais, inclusive a SEGA, que aparece pouco na obra.



Além disso, o documentário também traz uma visão muito mais “humanizada” dos criadores desse nosso mundo. Ouvir Mark Merrill (presidente da Riot) dizer que jogava Everquest quando adolescente e que fez muitos amigos por lá,  que Ernest Cline montava uma lan em sua casa para jogar Doom e Doom 2 com os seus amigos e ver Reggie Fils-Aime (presidente da Nintendo of America) dizendo que passava horas a fio jogando The Legend of Zelda, Mario Bros. e Chrono Trigger, além de mágico, é uma sensação muito boa de aproximação dessas figuras icônicas. Dá a todo gamer aquele sentimento de “ele fazia o mesmo que eu, que maneiro!”

Essa visão, muito bem retratada no documentário Indie Game: The Movie, foi expandida ao extremo com Video Games: The Movie. O documentário nos apresenta uma visão muito ampla e globalizada da indústria dos games. Coisas como Al Alcorn (engenheiro por trás do PONG) citar Nolan Bushnell em sua fala e, algums minutos depois, o próprio Bushnell (co-fundador da Atari) falar de Alcorn, fora outros exemplos, é muito interessante e nos mostra como as guerras santas dos consoles (termo utilizado no próprio documentário) não são tão importantes ou significantes como alguns pensam pois, afinal, o importante é jogar.

Uma injeção de nostalgia em doses cavalares

Outro fator grandioso do documentário, como já foi citado aqui, é a nostalgia que ele dá ao telespectador. Seja com os temas, seja com as imagens dos jogos, com os relatos ou com a trilha sonora impecável que inclui até clássicos como Queen e Michael Jackson; esse documentário emociona qualquer gamer com mais de 20 anos de idade, pois grande parte dessa história foi presenciada a vivida por vários de nós. 
Não é todo dia que você vê o eterno Rei do Pop jogando um Sega Genesis
Para aqueles que são mais jovens, o documentário apresenta a gloriosa época dos “anos dourados”, dos arcades e dos primeiros consoles de mesa de forma bem explicada e coerente. É como escutar Pedro Alvares Cabral falando do nascimento do Brasil ou então Armstrong contando sobre a corrida espacial. Ver grandes nomes do passado e do presente dos games explicando tudo o que aconteceu e está acontecendo é, sem dúvidas, a melhor aula de história que muitos poderíam querer.
"Se os jogos fossem simplesmente apertar botões para produzir respostas, não estaríamos jogando até hoje, teríamos perdido o interesse há muito tempo". Alison Haislip (Atriz - Tv Host)

Ao infinito… e além!

Não só de passado que se constrói uma história e esse documentário entende isso muito bem. Além de envolver o passado e o presente dos videogames enquanto indústria e cultura, Video Games: The Movie também apresenta as tendências para o futuro, como o próprio Hideo Kojima (criador de Metal Gear Solid) fala: “Daqui há 100 ou 200 anos, os videogames continuarão existindo”.
O combo Oculus Rift + Omni é a prova de que os videogames vieram pra ficar


Revelações da nova geração dos games como a equipe por trás da Riot (empresa criadora do League of Legends) e a mente por trás do Oculus Rift, Palmer Luckey, são mostradas e entrevistadas. Cada uma das mentes criadoras trás um pouco das suas previsões de como será o “jogar” daqui há 20, 30 ou 50 anos. Essas falas trazem a ideia de que os videogames, assim como o cinema e a música, não vão acabar, mas somente se modificar. Nossa querida mídia de entretenimento agora é um estilo que conversa com os demais,transformando-se e evoluindo, mas só irá terminar se a humanidade como a conhecemos terminar junto.

Essa é a mensagem principal do documentário no meio de tantas outras. Não é presunção alguma dizer que absolutamente todos que jogam, nem que seja um jogo de 2 Mbs no celular, deveriam assistir a esse filme. Nenhum Farm Heroes Saga, Sunset Overdrive, The Last of Us ou Mario Kart 8 seriam o que são hoje se não fossem os pioneiros do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, os fundadores da Atari ou os “magos” Miyamoto e Kojima. E isso é muito importante de ser dito.

Revisor: Jaime Ninice
Capa: Stefano Genachi 

Gilson Peres é Psicólogo e Mestre em Comunicação pela UFJF. Está no Blast desde 2014 e começou sua vida gamer bem cedo no NES. Atualmente divide seu tempo entre games de sobrevivência e a realidade virtual.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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