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Análise: Infinity Blade (iOS) é o messias dos jogos mobile

Obra da Chair Game traz lutas de espada épicas para os tablets e smartphones.

Por um breve período, nos meados de 2010, as plataformas mobile pareciam ameaçar os videogames portáteis. O sucesso repentino dos smartphones e tablets da Apple, com seus catálogos de jogos crescendo rapidamente, levou até mesmo alguns sites e analistas de videogames a proclamarem que os dois mercados convergiriam. O tempo provou ser isto mera histeria. Atualmente, os mercados convivem pacificamente, com perfis de jogadores, públicos alvos e — principalmente — jogos bem diferentes.




Confesso: eu era uma das pessoas iludidas por esta histeria inicial. Eu acreditava piamente que aparelhos com iOS e Android roubariam o espaço de videogames portáteis da Sony e Nintendo. Mas eu tinha um motivo para tal: Infinity Blade (iOS). Esse jogo representava todo o potencial das plataformas mobile e como smartphones e tablets também podiam ter games realmente grandiosos e capazes de viciar até o jogador mais hardcore. Ele me iludiu, mas somente quanto ao futuro do mercado mobile. A sua qualidade, por outro lado, não tinha nada de ilusória.

Lindo e empolgante

O visual de Infinity Blade é sua característica mais chamativa. De fato, cuidado especial  foi dado a este setor. O propósito original do jogo era ser uma demonstração técnica da Unreal Engine, exibindo seu poder no sistema iOS. Em 2010, ano de lançamento do game, sua estética era tecnicamente impressionante. Mas mesmo quatro anos depois, o jogo continua bonito. Iluminação, texturas e resolução envelheceram; já a direção de arte, continua fantástica.

Todos os cenários são incrivelmente detalhados e bem planejados. Os desenvolvedores demonstram ter um ótimo conhecimento de cinematografia, criando ambientes distintos que ficam na mente do jogador. Pode-se dizer que a estrutura de Infinity Blade é dividida em “cenas”.

Exploração e combate estão intimamente ligados a este conceito e ele dita o ritmo da aventura. Não há liberdade para ir e vir, apenas um caminho linear, sem volta. A decisão do jogador se limita a escolher quando prosseguir para a próxima cena, tocando em um inimigo ou caminho livre. Na transição de cada cena, é possível mudar um pouco o ângulo da câmera e tocar e itens pelo caminho, coletando-os.

As lutas só são iniciadas caso você toque nos inimigos — o que é inevitável, já que a maioria está bloqueando seu caminho. Todas elas são lutas de espada, um contra um. Você pode cortar em quatro direções, deslizando o dedo sobre a tela. Seu adversário, claro, não recebe os golpes de bom grado, bloqueando e desviando deles.

O momento certo para atacar é no fim das investidas do oponente, quando é possível fazer combos curtos de três a cinco cortes sem medo de retaliação. Para criar essas janelas, o jogador pode bloquear, desviar ou contra-atacar os golpes inimigos. As três ações estão em respectiva ordem de dificuldade.

  • Bloqueios são simples de se fazer, resumindo-se a manter pressionando o botão no centro da tela. Eles também criam as menores janelas de oportunidade e têm número limitado de uso;
  • Desviar requer perceber a direção do golpe inimigo e correr para a oposta;
  • Contra-ataques são efetuados ao se deslizar a espada na mesma direção do ataque adversário, em sincroniza com ele. Um contra-ataque bem executado pode atordoar o inimigo, permitindo que o jogador efetue combos mais longos.

Há momentos certos para se usar as três ações no decorrer das lutas. Alguns golpes são impossíveis de desviar, outros de bloquear. Não é possível contra-atacar golpes físicos.

À disposição do jogador há também anéis mágicos, ativados ao se desenhar padrões nas telas, além de um super-ataque que interrompe qualquer ação inimiga. São ferramentas poderosas, mas com usos limitados e que demoram para recarregar.

A batalha em si é subdividida em outras três cenas. A cada um terço de vida do inimigo eliminado, há uma pequena animação dele recuando, e a luta fica mais difícil e a música mais dramática. Com sua vida totalmente destruída, há então outra pequena cutscene, de seu personagem desferindo o golpe final. O resultado final é empolgante e memorável.

Nunca entre numa luta mal equipado

Como recompensa da vitória, o jogador ganha dinheiro e experiência, elementos típicos de um RPG. Atípico para o gênero é a forma como a experiência é distribuída. Ela é dividida em cinco e drenada de cada peça de equipamento em uso — espada, armadura, helmo, escudo e anel mágico. Cada peça possui um número fixo de experiência que pode ser drenada, até que seja dominada. Qualquer ponto de experiência ganhado em outra luta é perdido caso se esteja usando um equipamento dominado.

Isso obriga o jogador a experimentar o máximo de equipamentos possíveis, sempre trocando por aqueles que ainda não foram dominados. Novos itens podem ser comprados com dinheiro diretamente do menu ou, mais raramente, encontrados em baús. Felizmente, há uma quantidade bem grande peças à sua disposição, garantindo que se ganhe muitos níveis até que se domine tudo. Alguns equipamentos, é verdade, parecem mais uma piada — de design ou usabilidade — mas o sistema incentiva o jogador a usar a dominar todos.

Comprando a vitória!
Infinity Blade conta com um sistema de micro-transações simples e não intrusivo. Se assim estiver disposto, você pode trocar dinheiro real por virtual. Há pacotes que vão de $ 0,99 (por 2.500 peças de ouro) a $ 49,99 (por 2.5000.000 peças de ouro). Cuidado com o cartão de crédito!

“Pai… eu te vingarei!”

Outro aspecto essencial de Infinity Blade é a ciclicidade. Tal elemento é encrustado na própria história do jogo e justificado de forma elegante: você controla o descendente de uma família de guerreiros cujo propósito é eliminar o tirano God King. Cada vez que você morre, um descendente toma seu legado, invadindo o castelo e recomeçando a aventura. O herdeiro mantém todos os equipamentos e níveis adquiridos pelo antepassado — similar ao que ocorre em Rogue Legacy (PC/PS3/PS Vita).

Os inimigos do castelo ficam mais difíceis a cada nível adquirido. Já o God King mantém-se no nível 50 até que você possa derrotá-lo. Há um excelente motivo para isso: o chefe é extremamente difícil de matar. Com um pouco de experiência, é possível passar por todo o castelo sem morrer sequer uma vez. Com o tirano, a história é diferente: o jogador com certeza terá que usar vários e vários descendentes, passando pelo castelo inúmeras vezes para finalmente matá-lo.

Essa ciclicidade poderia tornar o game repetitivo. Por incrível que pareça, não é o que acontece. Ele continua empolgante, interessante e extremamente viciante, justamente pelo uso efetivo do conceito de cena e do detalhismo foi colocado em cada parte do jogo. Além disso, o castelo tem um tamanho razoável, não levando muito tempo para que o jogador chegue ao trono do God King de novo e tente terminar seu reinado. O caminho para o trono possui algumas rotas alternativas e segredos, garantindo certa variedade às várias investidas.

Entretanto, matar o dono do castelo não termina os vários ciclos. Os segredos finais só podem ser desvendados ao se adquirir a lâmina que dá nome ao game. Contrariando a intuição, ela não é conquistada após a batalha no trono: é necessário comprá-la, como qualquer outro item. Seu preço elevado obriga o jogador a persistir por mais algumas linhagens, derrotando o God King várias vezes para então reunir recursos o suficiente para reclamar a espada. Com ela, é possível abrir uma câmara secreta nos calabouços, onde o verdadeiro chefe final pode ser confrontado.

Um exemplo não seguido

Infinity Blade é o grande profeta dos jogos mobile, mostrando todo o potencial da plataforma e como seus jogos não precisam dever em nada para os de consoles e portáteis. Bem trabalhado, empolgante e viciante, não é limitado de forma alguma pela falta de botões e telas pequenas.

Uma pena que os desenvolvedores logo abandonaram seus ensinamentos e foram iludidos pelas mensagens do anticristo conhecido como Angry Birds.

Prós

  • Visual fantástico;
  • Ótima trilha sonora;
  • Combate empolgante;
  • Jogabilidade cíclica viciante;
  • Sistema de experiência criativo e que motiva o jogador a experimentar vários equipamentos.

Contras

  • A variedade de inimigos não é tão grande;
  • A história não é muito desenvolvida, apesar de parecer haver muito mais coisa por trás de tudo.

Infinity Blade — iOS — Nota: 9,0
Revisor: Leonardo Nazareth
Capa: Stefano Genachi

Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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