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Análise: Long Live the Queen (PC), um simulador de mortes real

No jogo de PC do produtor independente Hanako Games, o desafio é fazer a princesa Elodie sobreviver até sua coroação, enquanto foge das ameaças da complicada geopolítica de Nova.


Long Live the Queen (PC) é vendido como um simulador e comparado com Princess Maker, clássico do gênero lançado em 1991 para MS-DOS. Tal descrição é equivocada: o título é, na verdade, um visual novel. Apesar de possuir elementos de simulação, seu foco é na narrativa fixa e caminhos pré-determinados, explorados através das escolhas do jogador em determinados pontos.


A história gira em torno de Elodie, princesa de Nova. O reino era governado por sua sábia mãe, morta de forma misteriosa, colocando sobre a jovem monarca a grande responsabilidade de sucedê-la. Com seu pai, Joslyn, como conselheiro, ela tem 40 semanas até sua coroação, período em que deve treinar para se tornar uma rainha à altura de sua mãe. Isso é, se for capaz de sobreviver até lá.

Seguindo os padrões de um título do gênero, gameplay e história se confundem. Entretanto, diferente de visual novels comuns, em Long Live the Queen as escolhas do jogador nem sempre são diretas. Seus elementos de simulação criam um sistema bem intrincado de causas e consequências.

No início de cada semana, é preciso escolher duas dentre 42 habilidades para se treinar. O resultado dos vários eventos semanais são influenciados pelas aptidões da personagem. Por exemplo, na décima sexta semana há uma procissão e a escolha de se fazer um discurso ao fim das festividades. O resultado dessa ação dependerá da proficiência da princesa em falar em público. Se ela for alta o suficiente, o sermão pode aumentar a aprovação com a plebe — caso contrário, pode até mesmo ter efeito nocivo na imagem da futura rainha.
Também é possível escolher uma atividade semanal além dos treinamentos: praticar esportes, dança, hipismo, até mesmo brincar com bonecas. Isso influencia o humor da protagonista, que por conseguinte afeta o desempenho de seus treinamentos. Visitar os calabouços, por exemplo, pode deixá-la irritada, penalizando seu aprendizado em música e o melhorando em artes militares. Manipular o temperamento da personagem é essencial para otimizar suas habilidades e fazê-la ser bem-sucedida nos vários eventos semanais.

Mande no mundo ou morra tentando!

Como é de se esperar de uma princesa-regente, Elodie também faz escolhas que influenciam seu reino diretamente. Aumento de impostos, negociações políticas, julgamentos e até mesmo incursões militares estão sob sua responsabilidade.

O humor e habilidades influenciam, além dos resultados de suas escolhas, as opções disponíveis. Há várias formas de se resolver os conflitos de Nova: casamentos políticos, blefes, ameaças de guerra, mandatos de execução… É possível até mesmo apelar para o uso da magia. Parte central da trama gira em torno do fato de a futura rainha ser uma Lumen — uma guerreira mágica deste mundo fictício. Se bem treinada nas artes mágicas, a herdeira do trono pode resolver alguns conflitos com o estalar dos dedos.
Illuminate!

As deliberações da pequena monarca também afetam os outros membros da aristocracia. Todos os personagens que aparecem no decorrer da trama estão interessados na coroa de uma forma ou outra e atentos às suas ações. Algumas habilidades podem dar conhecimentos sobre a complicada geopolítica do reino, o que pode ser determinante para se resolver alguns impasses. Reciprocamente, a falta de informação pode levar a protagonista a decisões não muito sábias, com resultados inesperados no futuro. Agradar a todos nem sempre é possível. Muitas vezes o jogador será obrigado a escolher lados e firmar alianças.

Cortem suas cabeças!

Esse intrincado jogo político gera vários perigos para Elodie, que não é invulnerável. Muitos personagens, principalmente aqueles mais próximos na linha de sucessão, estão tramando ativamente contra a princesa. Alguns tentam chegar à realeza propondo um casamento político (sim, com uma garota de apenas 14 anos!). Já outros, menos sutis, planejam simplesmente matar a protagonista.

Há muitas formas de morrer no decorrer das 40 semanas. O título inclusive referencia este fato, com conquistas caso se descubra todas as possíveis formas de se matar a rainha-em-treinamento. Em alguns momentos o game vira um teste de crueldade, com alguns óbitos exigindo ação direta do jogador. Matar Elodie chega a ser parte da diversão. Nada é mais cômico do que uma guerreira mágica temida pelo povo com exército imbatível morrer antes de sua coroação por comer impulsivamente um chocolate envenenado.

Caso a princesa consiga sobreviver até a última semana — ou o jogador resista à tentação de matá-la — o jogo conta com vários finais, todos eles influenciados pelas decisões tomadas anteriormente. Literalmente todas as ações tomadas afetam o desfecho de Elodie e os vários outros personagens de alguma forma… caso estes também tenham sobrevivido até a coroação. As decisões da personagem podem ocasionar uma verdadeira chacina monárquica, matando toda a aristocracia e gerando uma rainha solitária.

Alguns problemas de execução

Nem todos os desfechos são óbvios, entretanto. A relação entre os eventos e as habilidades de Elodie às vezes é anti-intuitiva. O jogo tenta contornar isso com um sistema que mostra os pré-requisitos para ser bem sucedido em determinado evento. Isso ajuda bastante, mas não elimina resultados inesperados ou difíceis de se prever. Há três estatísticas, em especial, que influenciam eventos importantes e não são mostradas em lugar algum da interface: aprovação da plebe, aprovação da nobreza e crueldade. Certas conquistas e finais praticamente exigem um guia.

Falando na interface, ela não é das melhores. O número elevado de habilidades a serem treinadas faz com que o game em alguns momentos mais pareça um Excel Com Princesas, principalmente em semanas com poucos eventos. A falta de um botão de desfazer chega a ser frustrante em alguns casos.

Apesar disso, o jogo continua sendo uma ótima abordagem do gênero de visual novels. Os elementos de simulação são usados magistralmente para dar flexibilidade ao título, além de bem mais interação por parte do jogador. A forma como os vários sistemas se ligam é intrincada e interessante. Estes pequenos problemas são o menor dos obstáculos para aqueles que querem chegar à coroação.

Prós

  • Ótima mistura de elementos de visual novel e simulação
  • História interessante
  • Personagens bem construídos, com relações complexas e intrincadas
  • Muitos caminhos e desfechos para todos os personagens

Contras

  • Alguns desfechos e conquistas praticamente exigem o uso de um guia
  • Interface um pouco confusa
  • Direção de arte e áudio genéricas

Long Live the Queen — PC — Nota: 7,5
 Revisão: Bruno Nominato
Capa: Felipe Araújo

Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
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