Resenha

Gyakuten Saiban traz os tribunais de Ace Attorney para as telonas

Adaptação japonesa em live-action do primeiro jogo da série, dirigida por Takashi Miike, consegue escapar da maldição dos filmes baseados em jogos.


É até esquisito pensar sobre onde a franquia Ace Attorney, da Capcom, conseguiu chegar. Lançado originalmente para o Game Boy Advance, apenas no Japão, o primeiro jogo da série conseguiu se sair bem em vendas por lá, e seus dois jogos seguintes obedeceram o mesmo padrão. Para a nossa sorte, a Capcom decidiu que a turma de Phoenix Wright merecia uma chance no ocidente, e o primeiro jogo deu as caras no Nintendo DS em 2005, intitulado como Phoenix Wright: Ace Attorney.


Hoje, Ace Attorney conta com sete jogos oficiais, dos quais seis chegaram a este lado do globo (ainda esperamos a localização de Ace Attorney Investigations 2, Capcom). E é óbvio que a série — com seus personagens carismáticos, histórias envolventes e gameplay simples —  conquistou muitos fãs em várias partes do mundo. Por isso não é nenhuma surpresa que uma adaptação em live-action tenha sido feita, no Japão, em 2012. Gyakuten Saiban, dirigido por Takashi Miike e estrelado por Hiroki Narimiya, que assume o papel de Phoenix Wright, é um longa-metragem baseado no primeiro jogo da série.
Takumi Saito e Hiroki Narimiya nos papéis de Edgeworth e Wright

Objection!

Gyakuten Saiban é o título original de Ace Attorney na terra do sol nascente. Em português, pode ser traduzido para algo como "Julgamento no Tribunal", em referência ao clássico tribunal que é cenário principal dos jogos da franquia.

A história do longa se passa no Japão, em algum tempo no futuro, no qual a criminalidade subiu a níveis alarmantes. A solução temporária foi a criação do Bench Trial System, um sistema no qual a defesa e a promotoria têm três dias para provarem seus casos na corte. No meio desse turbilhão, acompanhamos o advogado recém-formado Phoenix Wright (Hiroki Narimiya), que de repente tem que lidar com a morte de sua mentora, Mia Fey (Rei Dan), que fora assassinada. A principal suspeita do crime é a irmã mais nova de Mia, Maya Fey (Mirei Kiritani). Wright, no entanto, não acredita que a adolescente seja a verdadeira culpada, e prontamente se oferece para ser sua defesa. O que ele nem desconfia é que, ao fazer isso, ele se verá envolvido em um antigo e misterioso caso no qual Mia estava trabalhando, o chamado "Incidente DL-6". 
Maya e Phoenix investigam o Caso DL-6
O filme segue o roteiro dos casos Turnabout Sisters e Turnabout Goodbyes, do primeiro jogo, mas traz também algumas referências a casos de outros jogos. E quando se diz que ele "segue" o roteiro, é exatamente isso o que ele faz. Nada de inventar personagens ou eventos bizarros para a narrativa. Talvez Gyakuten Saiban seja a adaptação cinematográfica mais fiel de um jogo. Claro que existem algumas alterações mínimas aqui e ali, mas elas são feitas para deixar o filme com um ritmo mais natural.

Isso significa que quem já jogou o primeiro Ace Attorney não se verá surpreendido pela trama. Ainda assim, não dá para deixar de notar que o trabalho de roteirização foi muito bem feito. Quem é fã do advogado de cabelo engraçado se verá entretido ao perceber a atenção dada aos detalhes que compõem a obra. Quem não conhece a série pode ver o filme e entender perfeitamente o que está acontecendo, mas perderá boa parte das referências que existem no meio do caminho.

A caracterização dos personagens ficou decente. O grande destaque foi Ryo Ishibashi no papel de Manfred von Karma, que captou muito bem a personalidade marcante do "promotor invicto". Hiroki Narimiya também atuou bem como Phoenix Wright, mostrando a determinação do advogado em provar a inocência de seus clientes. Talvez a única decepção tenha sido Mirei Kiritani no papel de Maya. O lado divertido da garota quase não fica aparente no filme, o que é uma pena, já que essa é uma das grandes características da assistente de Wright.


Quanto aos cenários, vale mencionar o cuidado que os produtores tiveram ao criar o tribunal onde se passam os julgamentos do filme. A composição dos elementos ficou bastante fiel a dos jogos, com uma novidade: os advogados podem usar hologramas e representações gráficas dos documentos para mostrá-los a corte. Pode parecer ridículo para alguns, mas combina com a temática futurista do filme.

A trilha sonora é boa, mas falha em captar a atenção do espectador durante a maior parte do tempo. Apenas nas poucas partes em que as faixas marcam os momentos de tensão é possível notar os belos arranjos e melodias que permeiam o longa. Muitas das músicas criadas especialmente para o filme são ótimas, mas o grande destaque está nas versões orquestradas de algumas das composições da trilogia original para Nintendo DS e Game Boy Advance.

O julgamento vai começar 

Mesmo sendo um bom filme, é inegável que Gyakuten Saiban não consegue agradar a todos os fãs da franquia da Capcom. Talvez alguns pensem que o humor sem sentido que existe em Ace Attorney fique esquisito em formato live-action, mas temos que lembrar que o longa-metragem é do Japão, e que a cultura por lá é diferente da cultura ocidental. Se alguém ver o filme com isso em mente, é bem mais provável que acabe enxergando melhor suas qualidades.

Mas os fatos estão aí. A obra foi recebida relativamente bem entre a crítica, o que é algo raro, considerando que filmes baseados em jogos costumam ser ruins. A razão pela qual Gyakuten Saiban se saiu bem como filme provavelmente vem do fato de que o enredo da franquia Ace Attorney se assemelha mais a um livro do que a um videogame. O veredito? Todos os fãs da turma de Phoenix Wright deveriam dar uma chance para o filme.


Revisão: Samuel Coelho
Capa: Vitor Nascimento 

Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
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