Tão nacionais quanto samba e futebol: conheça os jogos brasileiros do Master System

Se pudéssemos voltar no tempo e encontrar os jogadores de videogame dos anos 90 e disséssemos que um dia Mario e Sonic estariam no mesmo j... (por Gabriel Toschi em 05/08/2013, via GameBlast)

Se pudéssemos voltar no tempo e encontrar os jogadores de videogame dos anos 90 e disséssemos que um dia Mario e Sonic estariam no mesmo jogo - e, pior, que Sonic teria jogos exclusivos para consoles Nintendo, ou seríamos taxados de loucos, ou seríamos condenados à morte. A rivalidade entre Nintendo e SEGA era grande naquela época em todas as partes do mundo. Se o NES fez sucesso no mundo todo trazendo clássicos que até hoje são jogados, no Brasil a coisa foi diferente e o Master System dominou o mercado por causa de uma empresa: a Tectoy.

A Tectoy é a empresa que detém até hoje os direitos de comercialização do Master System no Brasil e foi a maior responsável pela popularização do console no país. Para ser mais realista, eles ainda produzem o console da SEGA: em pleno cenário de gráficos next-gen e jogatina online, ainda temos os velhos Alex Kidd e Sonic para nos divertir em um dos jogos que vêm na memória deste console.

Porém, além de um marketing muito bem feito em cima do produto, competir com a infinidade de cópias piratas do NES (estou falando de você, PolyStation!) não foi fácil. Então, a escolha foi “fazer” jogos especialmente para o público brasileiro. Fazer entre aspas, porque a maioria deles são apenas modificações (conhecidas como rom hacks) autorizadas pela SEGA dos jogos originais do Master System. Vamos relembrar estes jogos 100% brasileiros - ou quase isso?

Dentuça, golducha, baixinha!

Três palavras que marcaram a infância de muita gente junto com Mônica, Cebolinha, Cascão, Magali… e o resto da turminha mais animada dos quadrinhos. A obra de Maurício de Sousa já tem mais de 50 anos e teve o prazer de ser a primeira franquia brasileira a ser lançada para o Master System. Quer dizer, prazer de ser o universo escolhido para ser inserido dentro dos jogos da franquia Wonder Boy, já que os jogos que foram usados como base para as aventuras da Turma da Mônica nunca foram lançados oficialmente pela Tectoy.

Tudo começou com Mônica no Castelo do Dragão, versão brasileira de Wonder Boy in Monster Land. A história traz o eterno vilão Capitão Feio querendo dominar o mundo e transformá-lo em um lugar totalmente sujo (pra variar) e Mônica é a única que pode salvá-lo. Só que, na verdade, o Capitão Feio só aparece na tela de título e todo o universo é o mesmo do Wonder Boy… Então, a única coisa que a Tectoy fez foi colocar a Mônica como protagonista, trocar a espada pelo coelhinho e traduzir e adaptar alguns diálogos no jogo. De toda forma, é considerado um dos jogos mais difíceis do Master System.


A continuação veio com Turma da Mônica em O Resgate, adaptação nacional de Wonder Boy III: The Dragon’s Trap. A história aqui muda de figura e Mônica é raptada, tendo os seus amigos — Cebolinha, Magali, Bidu, Anjinho e Chico Bento — no lugar das transformações originais de Wonder Boy. Repare na falta do Cascão, ele virou um vendedor de loja em vez de protagonista.Como no outro jogo, todo o universo ainda é o de Wonder Boy e apenas os gráficos dos personagens foram trocados para os da turminha.

O sapo não lava o pé, não lava porque não quer…

O duvidável Instituto Brasileiro de Músicas Infantis Antigas revelou na última semana uma pesquisa que diz que a música do “sapo que não lava o pé” é uma das mais famosas entre as crianças. E, nos anos 90, o Sapo Xulé foi criado a partir desta cantiga tão famosa e, de quebra, protagonizou três jogos de Master System. Diferentemente da Turma da Mônica, ele fez parte de modificações de jogos completamente diferentes e não da mesma franquia, como foi com Wonder Boy:

  • Sapo Xulé: O Mestre do Kung Fu, hack do jogo de plataforma Kung Fu Kid, trazia o nosso querido sapo fedido em uma história ambientada em um Japão milenar, onde ele deveria impedir o mundo de ser conquistado por uma gangue de lutadores de kung fu;
  • Sapo Xulé: SOS Lagoa Poluída, hack do shooter (!) Astro Warrior, em que o objetivo é ajudar o Sapo a controlar um navio submarino para destruir todo o lixo derramado na sua lagoa por um complexo de usinas submarinas;
  • Sapo Xulé vs. Os Invasores do Brejo, hack do jogo de plataforma Psycho Fox, tinha aquela história de “o vilão está querendo dominar o brejo” que todos já conhecem e, assim como em O Resgate, os amigos do Sapo Xulé ajudam-no na aventura;

Não priemos cânico!

E quem disse que seriam apenas personagens brasileiros que fariam a Tectoy refazer um jogo da SEGA? Graças ao grandioso Silvio Santos, a sua SBT e seu desejo de passar, passar e passar de novo aqueles programas mexicanos, Chapolin x Drácula: Um Duelo Assustador foi lançado para o Master System como hack do jogo Ghost House.

Colocar a criação mais heroica de Roberto Gomez Bolaños contra o vampiro mais famoso do mundo foi a melhor forma para adaptar o jogo de plataforma, que trazia uma trama de caça à vampiros. Só foi trocar a tela de título e o personagem principal que mais um jogo fresquinho chegava para os brasileiros.

Tá na mêss, pessoaaaaal!

Se você foi uma feliz criança dos anos 90, provavelmente você sempre ficava triste quando ouvia esta frase com aquele sotaque francês ao fim da TV Colosso, um dos melhores e mais lendários programas infantis da Rede Globo de Televisão. E se você acompanhou nosso raciocínio até agora, já sabe que, sim, a Tectoy pegou um jogo da SEGA e o adaptou com os personagens da TV Colosso.

O escolhido que se tornou As Aventuras da TV Colosso foi um jogo dos vikings mais amados da animação: Asterix and the Secret Mission. A aventura de Asterix e Obelix tornou-se uma caçada de Gilmar e Priscila para encontrar seis tipos raros de ervas para curar Chefinho de uma doença. Até mesmo a escolha do tamanho do personagem continuou. Dependendo do tamanho do protagonista escolhido (Obelix e Priscila são maiores que Asterix e Gilmar), algumas passagens poderiam ser atravessadas.

Vindo dos quadrinhos

E quem diria que a Tectoy procuraria inspiração até mesmo em quadrinhos de jornais? Foi Geraldinho, um dos personagens do cartunista Glauco, publicadas no suplemento infantil da Folha de S. Paulo, a Folhinha, o escolhido para protagonizar um jogo. Quer dizer, mais um jogo já existente: Teddy Boy.

Na trama, Geraldinho devia derrotar seus inimigos — todos vindos do jogo original — com seu raio laser. E o mais legal é que a adaptação foi feita totalmente com textos em português.

Clift, claft, still, a porta se abriu!

Que criança nunca tentou resolver os enigmas do Porteiro para entrar em um dos castelos mais famosos da infância de qualquer telespectador da TV Cultura? E não é que a Tectoy resolveu fazer um jogo do Castelo Rá-Tim-Bum para o Master System! O jogo, diferentemente das outras adaptações — pasmem — é um jogo original, feito totalmente pela Tectoy.

O jogo é baseado no episódio em que Zequinha bebe uma poção mágica achando que é suco de uva e acaba voltando a ser bebê. Só que, diferentemente do episódio para a TV, você deve assumir a pele de Biba ou Pedro para percorrer o mundo e encontrar quatro ingredientes super-raros para reverter a poção. Um game de plataforma básico com um quê de puzzle, mas que tem muitos locais parecidos com a série televisiva, o que ajuda qualquer criança que gostaria de jogar isso.

Emília, fecha essa matraca!

Monteiro Lobato é um dos maiores escritos desse país de meu Deus. E, claro, quem nunca leu ou assistiu a versão para a TV do Sítio do Pica-Pau Amarelo da Rede Globo de Sítio do Pica-Pau Amarelo, não é mesmo? Sempre lembraremos da boneca que fala, da espiga de milho que fala e de um jogo do Master System feito pela Tectoy. Outro jogo original, como o do Castelo, feito especialmente para o Brasil.

Porém, o jogo não teve a mesma perfeição que a obra de Lobato e se apresentou apenas como um jogo bem básico de plataforma, com controles bem travados e gráficos não tão bonitos quanto às ilustrações dos livros, digamos assim. De toda forma, o jogo era todo em Português e ajudou o sucesso do Master System em terras tupiniquins.

Só podia ser o Zeca Urubu!

A risada mais icônica dos desenhos que ainda passam no SBT até hoje é do pássaro que mais gosta de árvores na história: Pica-Pau também recebeu seu jogo feito pela Tectoy. Em Férias Frustradas do Pica-Pau — que também recebeu uma versão para o Mega Drive — Zeca Urubu rapta todos os amigos da ave enquanto ele tirá uma foto em suas férias. Seu objetivo é salvar os seus amigos.

O game tinha gráficos até que bonitos, uma jogabilidade um pouco complicada como os outros, mas era um jogo legal. E quem diria que um personagem norte-americano só ganharia um jogo aqui no Brasil?


Depois de tantos jogos feitos exclusivamente para nosso país, nem dá pra acreditar que hoje a indústria ainda está se voltando para os nossos consumidores brasileiros. Qual foi o jogo “nacional” que você mais gostava? Conte nos comentários!


Revisão: Luigi Santana
Capa: Leonardo Correia

sempre com projetos criativos, estranhos ou os dois ao mesmo tempo. desenvolvedor de software, game designer e escritor sobre as coisas que eu gosto.
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