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Análise: Evolua junto com o jogo em Evoland (PC/Mac) e presencie a transição dos RPGs nas últimas décadas!

O tempo passa, pessoas crescem, jogos se desenvolvem, épocas mudam, a vida continua. É impossível lutar contra o tempo, podemos apenas ap... (por Fellipe Camarossi em 07/07/2013, via GameBlast)

O tempo passa, pessoas crescem, jogos se desenvolvem, épocas mudam, a vida continua. É impossível lutar contra o tempo, podemos apenas apreciar cada instante como se não houvesse o próximo. Isso vale também no mundo dos jogos, e todo e qualquer jogador da velha guarda sabe que mesmo com todos os jogos que temos hoje em dia, foi graças a uma geração de títulos que hoje chamamos de “clássicos” que eles existem, já que surgiram como resultado de uma evolução de mecânicas que pouco a pouco se condensaram em vários novos estilos de jogos.

É por esse motivo que hoje temos um mercado específico para jogos “retrô”, sejam remakes de clássicos que fizeram parte da infância de muitos gamers atuais, sejam novos jogos feitos com o estilo dos antigos, apenas para apelar para o lado nostálgico dessa velha guarda de jogadores. Eu mesmo sou um desses jogadores que amam esse estilo de jogo, que nos permite lembrar de detalhes que nos trouxeram para a geração atual, mas sempre me perguntei o que cada clássico teve a contribuir para nossos jogos atuais. Parece que foi nisso que a desenvolvedora indie Shiro Games pensou ao criar Evoland (PC/Mac), uma das experiências mais únicas que já tive o prazer de jogar.

“História do jogo”? Pense em “história dos jogos”

O subtítulo meio que
diz tudo.
Enquanto a maioria dos jogos retrô tem apelo específico para pegar períodos da história e fazer suas mecânicas baseadas no que tínhamos lá, Evoland vai um pouco além e faz um jogo que literalmente evolui com a ajuda do jogador. O que isso quer dizer? Melhor explicar na prática: logo ao iniciar o jogo, você está numa tela em preto e branco que lembra muito o Game Boy, com um pequeno filete de tela que só deixa visível seu personagem e dois baús, mas só é possível ir para a direita. Como indicado, você segue e abre o baú, revelando... a capacidade de andar para a esquerda. Você vai pra esquerda e abre o baú restante, liberando o grandioso poder de andar para todas as direções.

Entenderam a situação? Você não joga o jogo para completar uma história em específico, mas joga para ir liberando tudo o que os jogos foram ganhando no decorrer da história dos videogames. Você vai encontrar baús que vão lhe dar cores de 8 bits, trilha sonora, barra de vida e até mesmo um baú que vai dar uma trama para o título! Aliás, essa é uma das grandes piadas do jogo, porque você não pode esperar do jogo alguma seriedade quanto à história, onde temos um grande clichê que era muito usado na era de ouro dos jogos: uma terra assombrada por um grande mal, cabe ao seu herói libertá-la dessa escuridão. Simples, direto, efetivo.

Agora o jogo tem cores!
Se você está procurando em Evoland uma trama super elaborada, eu sinto muito, mas está olhando pro lado errado da realidade. Esse não é um jogo feito para mostrar grandes contos dentro do título, mas mostrar a grande evolução no decorrer dos anos na nossa história. Eles satirizam a evolução com pequenos comentários a cada baú que encontra, como “isso vai salvar você de algumas dores de cabeça” ao liberar o poder de andar continuamente no mundo aberto, além de uma série de easter eggs ocultos no decorrer do jogo, como um livro que fala sobre Shigeru Miyamoto e outro que fala sobre Chuck Norris. É, nem mesmo o grande mestre escapa das nostálgicas aventuras de Clink.

The Legend of Final Fantasy

É, você leu certo antes, o nome padrão do personagem (embora possa ser trocado) é Clink (C + Link). Mais a frente você consegue uma outra personagem para acompanhá-lo que se chama Kaeris (K + Aeris). Se acha que é pura coincidência, esse achismo vai se desfazendo conforme atravessa o mundo de Evoland, pois o jogo parece justamente uma mistura dos dois RPGs mais influentes da história dos jogos, The Legend of Zelda e Final Fantasy.

O jogo lhe dá duas formas de jogabilidade, trocando entre elas de maneira situacional e só testando para ver qual está naquele mapa em questão. A primeira é ação em terceira pessoa, como é o caso de Zelda; você recebe uma barra de vida (após abrir o baú que lhe fornece isso) e deve brandir sua espada contra os inimigos que entrarem em seu caminho, sempre tomando cuidado para analisar como cada adversário se comporta antes de sair atacando-o sem pensar.

E algumas pitadas do estilo de luta de Diablo permeiam uma fase em especial!
A segunda forma é o clássico estilo ATB (Active Time Battle) disponível nos jogos da franquia Final Fantasy. Este modo de batalha por turnos em tempo real geralmente surge quando se está transitando de uma cidade para outra no mundo aberto, embora possa surgir em determinados calabouços no decorrer da trama. O mais engraçado é que os dois modos não se misturam, e a evolução adquirida em cada um não influencia em nada no outro, dando a impressão de estarmos jogando dois jogos ao mesmo tempo.

E, claro, como todo RPG de respeito, o jogo é repleto de quebra-cabeças e desafios para serem resolvidos. Esses em particular se mostram extremamente divertidos quando envolvem a própria evolução dos jogos para serem resolvidos, precisando que o jogador passe para uma nova geração para concluir aquele mesmo desafio. É amigos, viajar entre as eras nunca foi tão divertido!

Tá, foi sim. Ocarina of Time (N64), estou olhando pra você.

Mas tudo tem limites

Infelizmente, a regra do título não se aplica para essa experiência também. Evoland não progride até a nossa geração atual, chegando no máximo ao estilo gráfico e de jogabilidade da sexta geração de consoles (PS2, GC e XB), o que ainda assim é um avanço e tanto. Convenhamos, é mais do que suficiente para o propósito do título de mostrar como evoluímos no decorrer das últimas décadas e como os jogos ganharam novas características que, lentamente, povoaram praticamente tudo que jogamos hoje em dia.

Ainda assim, é uma mudança e tanto.
O jogo em si, todavia, também apresenta algumas falhas. Se o jogador não estiver empolgado com a evolução dos jogos, não vai achar nenhum outro atrativo de destaque e vai perder o foco. O estilo gráfico realmente é algo lindo, mas o áudio pode deixar a desejar às vezes; mesmo sendo músicas feitas de forma nostálgica, são extremamente repetitivas – e não falo de repetir uma música de três minutos várias vezes, mas sim uma pequena faixa de trinta segundos incessante.

O fator replay também deixa um pouco a desejar, já que a quantidade de colecionáveis é um tanto quanto limitada – estrelas e cartas bem escondidas ao redor do mundo do jogo para completar seus achievements. As cartas em especial podem ser usadas dentro de um minigame encontrado em uma das cidades do jogo que lembra muito o jogo de cartas presente em Final Fantasy VIII (PS), apenas um aditivo e mais uma forma de se jogar. Mas, como disse, é um aditivo, que serve apenas como distração. Se quiser se apegar em algo, apegue-se à experiência da evolução. Se não puder se apegar a isso, bem... Que tal comprar outro jogo?

Uma aula de história para se jogar

No fim das contas, Evoland serve bem ao seu propósito, que é apelar nostalgicamente aos velhos jogadores e dar aos novos um gostinho da experiência que nós tivemos no passado. Não é aquele jogo que você vai comprar para ter a experiência de uma história digna de uma odisseia, ou para experimentar uma jogabilidade única que coloca até jogadores experientes numa nova situação. É tudo sobre a nostalgia.

É simplesmente lindo ver isso...
Mesmo o mais carrancudo dos jogadores atuais sabe reconhecer suas origens e dá aquele risinho de canto ao se lembrar dos jogos que permearam sua infância com risos e alegria, mesmo com suas limitações. Uma época em que gráficos não eram essenciais para um jogo ser excelente, que a jogabilidade era boa mesmo que limitada, que a história não precisava ser perfeita para agradar, e são essas raízes que colocaram esses gamers no rumo que estão hoje. Só temos a agradecer para essas gerações.

...se tornando isso.
Evoland é no mínimo uma homenagem para essas velhas aventuras que hoje mais acumulam poeira em nossas estantes do que horas de jogo, mas estes games permanecem lá não como defasados de uma geração antiga, mas como troféus de um soldado de longa data. O jogo não é perfeito, ainda pode melhorar bastante, mas é uma experiência que qualquer jogador nostálgico, como eu, precisa passar para vivenciar novamente aqueles velhos tempos. Agora, se me dão licença, tenho alguns jogos aqui para tirar o pó.

Prós

  • Estilo único que transita da era dos 8 bits até chegar perto da atualidade;
  • Mescla de jogabilidade de duas grandes franquias, The Legend of Zelda e Final Fantasy;
  • Colecionáveis bem escondidos que expandem as horas de jogo;
  • Um jogo essencial para alguém que queira uma experiência nostálgica.

Contras

  • Relativamente curto;
  • Músicas repetitivas;
  • Não comporta mais do que um save.
Evoland – PC/Mac – Nota: 8,5
Revisão: Samuel Coelho
Capa: Diego Migueis

Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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