O GameBlast teve a oportunidade de visitar o CG Extreme, evento de Computação Gráfica no Rio de Janeiro, lá tivemos a oportunidade de assistir a uma palestra de Tom Isaksen, um modelador 3D sênior que, dentre outros trabalhos, participou da criação de personagens do jogo Hitman. Durante sua apresentação Isaksen mostrou como é seu processo de modelagem de personagens, do zero ao produto final.
Depois da apresentação conversamos um pouco com o artista, que é super simpático e adora o Brasil - onde mora atualmente com a esposa, brasileira - mas não fica muito empolgado quando é perguntado sobre seu trabalho em Hitman.
Modelagem 3D para jogos AAA
GameBlast: Adoramos sua apresentação. Ver um personagem tão completo do começo ao fim, cheio de curiosidades e dicas técnicas. E ainda, nos moldes do que pede um jogo, com menos polígonos e animável. Deve ter dado bastante trabalho.
Tom Isaksen: Foi muito divertido. Eu estava com um pouco de medo da plateia não gostar porque era muito técnico e porque não era sobre Hitman (risos). Muitas vezes é sobre isso que as pessoas querem ouvir. Elas querem me ouvir falar sobre Hitman mas isso está no passado, está feito, pronto e você pode jogar o jogo. E também eu quis fazer algo novo pois como já dei algumas pequenas palestras para o pessoal da Seven e eu não quis dizer as mesmas coisas que já disse antes, então resolvi fazer algo novo. E, sabe, eu estava no clima de fazer um personagem desse tipo e por sorte estava com tempo também. Normalmente não teria tempo pra fazer um trabalho não pago, este me tomou três semanas, mas eu não consigo parar de trabalhar.
| Undead King sorrindo, que simpático! |
GB: O resultado ficou muito bonito, gostei especialmente do estilo medieval dos detalhes.
TI: Espero que não tenha ficado assustador demais. Tive alguma inspiração para isso. Procuro muito na internet, talvez eu tenha olhado mil imagens antes de começar a minha. Eu sempre junto muita referência, vou ao Zbrush e começo a tentar algo. E não são apenas figuras de monstros, pode ser uma figura para referência de algumas partes minúsculas de metal. Por exemplo, busco fotos de metais e vejo como eles são. Porque claro que temos uma ideia de como um metal é, mas quando você senta lá e trabalha você precisa se assegurar de certos detalhes para fazê-lo mais real. Por exemplo, se vou modelar uma jaqueta para Hitman, todo mundo sabe como é uma jaqueta, mas você realmente sabe como é o desenho da costura ou o formato do bolso, ou se ele é levemente rotacionado. Esse tipo de detalhes você não pode sempre ter na sua cabeça então simplesmente vá e procure por fotos. Eu já peguei roupas reais e levei pro escritório e pedi pra alguém vestir e tirei fotos, já procurei algum dos meus colegas que estivesse usando a roupa que eu estava querendo fazer e tirar fotos dele, já pedi pra minha esposa vestir algum figurino e tirei fotos também. Referência é algo muito importante.
Trabalhar no Brasil
GB: O que achou do Brasil?
TI: O Brasil é ótimo, todos me tratam muito bem, especialmente aqui na CG Extreme, que parece que sou um rockstar (risos). Aqui é o único lugar do mundo, tenho certeza, que isso vai acontecer.
GB: E em relação à trabalho?
TI: Desde que me mudei para o Brasil tenho feito trabalhos freelance, mas agora estou me mudando para Paris para trabalhar com a Ubisoft, eles me chamaram para um freela há um tempo atrás e depois quiseram me contratar. A Ubisoft é legal, eles têm muita experiência então decidi tentar, talvez fique por lá uns anos.
GB: Sentiu alguma dificuldade?
TI: A minha esposa já morava em Brasília e quando fomos procurar um apartamento pra nós buscamos um lugar que tivesse internet rápida e então arranjamos um apartamento lá, pois de outra forma eu não poderia trabalhar, então escolhemos o apartamento baseados em velocidade de conexão.
GB: Deve ter sido difícil por causa da infra-estrutura.
TI: Mesmo em Brasília, que é uma cidade bastante nova, metade da cidade não tem internet rápida. Também tive uma preocupação com quedas de energia. Tive que comprar um no-break enorme para rodar meus computadores e me assegurar que não desligassem. É completamente diferente. Mas tem muito sol também, adoro isso.
GB: Como foi trabalhar com empresas brasileiras?
TI: Fiz alguns comerciais pra Kaiser, fiz uma propaganda com a Camila Pitanga, que foi engraçado pois eu estava no escritório e minha esposa disse "ela é super famosa", e eu não sabia. A minha dificuldade foi de fazer as pessoas saberem que eu estava aqui. Por muito tempo ninguém soube. Só quando eu resolvi ensinar que fui procurar as escolas, como a Seven. Se não fosse isso talvez eu nem estivesse aqui pois ninguém sabia disso.
GB: E você sentiu diferença no fluxo de trabalho aqui?
TI: Existe uma diferença cultural, claro. Na Dinamarca todo mundo é muito pontual e organizado, mas também "quadrado" demais. Aqui é tudo um pouco mais relaxado, mas também é tudo completamente na última hora. É algo como "você pode fazer isso?" "ahh, tá" "Pra amanhã?" "Nãaao!". São culturas diferentes. É diferente, mas eu adoro o Brasil. E adoro caju (risos).
GB: Já sabe em que projeto vai trabalhar na Ubisoft?
TI: Por enquanto não posso falar sobre meu trabalho na Ubisoft. Desculpe.
Revisão: Ramon Oliveira de Souza



