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Análise: Teste sua paciência na busca pela garota band-aid! Super Meat Boy é uma deliciosa aventura que nos lembra toda a glória do estilo plataforma

Em meio a tantas produções “mais do mesmo”, um jogo fez um barulho danado quando foi lançado. Não era um shooter genérico ou algo do ti... (por Unknown em 19/04/2013, via GameBlast)



Em meio a tantas produções “mais do mesmo”, um jogo fez um barulho danado quando foi lançado. Não era um shooter genérico ou algo do tipo, mas sim um jogo independente que não tinha um grande orçamento por trás de sua produção. Para quem estava cético quanto ao sucesso, o garoto feito de carne calou a boca de muitos figurões da indústria, tornando-se uma lenda e compra obrigatória para todos os fãs de games. Super Meat Boy lembrou ao mundo que um jogo não precisa ter um custo astronômico para ser bom, tudo o que precisa é ser divertido. Não acredita? Confira a nossa análise e reveja seus conceitos.

Começo a matéria com uma simples reflexão: já se perguntou o porquê você é apaixonado por games? O que te faz gostar tanto dessa forma de entretenimento? Bom, não sei vocês, mas apesar dos vários motivos, para mim, o principal deles é a diversão. Eu me divirto horrores jogando videogame.


A minha paixão já começou na época do Master System, para muitos outros, na época do SNES e por aí vai. Foram horas e mais horas jogando aqueles simples games que te transportavam para outro mundo. Perceberam que eu disse a palavra “simples”? Pois é, isso faz toda a diferença.

O simples aqui é no sentido da produção. Naquela época, os jogos não tinham gráficos exuberantes e nem mecânicas super desenvolvidas, mas independente disso, divertiam à beça, não é mesmo? Entenderam aonde eu quero chegar?

Você nunca precisou de superproduções para se divertir com os jogos. Mas parece que a indústria se esqueceu disso, e muitos gamers de hoje em dia compram esse conceito, achando que bons jogos são apenas aqueles que custaram milhões. O que será que mudou? É uma pergunta muito importante, mas que infelizmente não será respondida nessa matéria. O propósito aqui é outro: mostrar que os “jogos simples” não morreram, muito pelo contrário, permanecem vivos e conquistam cada vez mais adeptos.

Estilo Indie de ser

É impossível falar sobre Super Meat Boy sem falar dos seus criadores, e é impossível falar deles sem falar do documentário “Indie Game”, uma produção que contrasta o romântico com as dificuldades, mostrando os bastidores da produção desses jogos independentes que estão novamente conquistando o mercado.


Conhecidos como Team Meat, Edmund McMillen e Tommy Refenes são os nomes por trás do jogo. Sim, apenas duas pessoas fizeram Super Meat Boy. Difícil de acreditar, não é mesmo? Após conhecê-los um pouco, podemos perceber uma série de elementos fundamentais para a compreensão do jogo.

É importante falar dos produtores, já que o game é um reflexo de seus anseios, sonhos e frustrações. Logo de cara ficamos sabendo que o grande objetivo da dupla era retratar a infância deles em forma de jogo. O seu grande desejo era fazer um game onde eles, quando tinham 13 anos, gostariam de ter jogado.


Além disso, um dos principais pontos vistos no documentário é o sofrimento da dupla para terminar o jogo. Imaginem apenas duas pessoas sendo responsáveis por todos os aspectos produtivos, é algo que realmente demanda muita força de vontade e perseverança. Em muitos momentos podemos perceber a angústia dos dois e suas dúvidas em relação ao futuro. O desabafo de Tommy é marcante nesse sentido:

Vou dormir às 10 horas da manhã e acordo às 16h, faço o meu lanche (um sanduíche de micro-ondas), tomo a minha insulina, checo os e-mails e trabalho até às 10h da manhã do dia seguinte. Eu sacrifiquei ter uma vida. Eu não saio, eu não socializo. Eu não posso nem ao menos gastar, pois não tenho dinheiro. Você precisa desistir de algo, para ter algo ótimo em troca.
Edmund, por sua vez, brinda-nos com uma descrição marcante do personagem principal:

Ele é um garoto sem pele, por isso o chamamos de Meat Boy, ele talvez esteja sofrendo, mas lida com isso.
Esses desabafos são fundamentais para compreendermos o que está por trás da produção de Super Meat Boy, revelando qual a sua essência. E como vou mostrar ao decorrer da matéria, os sentimentos dos criadores estão presentes em todos os aspectos do jogo. São pontos muito importantes para entendermos a alma do título.

Se você chegou até aqui, então é porque realmente se interessa pelos games e está sempre aberto a novas visões. Peço que continue me acompanhando, garanto que a jornada vai valer à pena.

Salve sua amada

Super Meat Boy faz homenagem até mesmo em seu enredo, que é simples e clichê propositadamente. Tudo começa com a linda história de amor entre o singelo pedaço de carne chamado Meat Boy e sua namorada feita de curativos, a Bandage-Girl. Os dois estão lá felizes da vida, quando surge uma figura, no mínimo, estranha. Sim, estou falando dele, o invejoso, cruel, solitário e estraga-prazeres, Dr. Fetus.


Não, você não entendeu errado. O grande vilão da jogada é um simpático feto que controla um robô engomadinho. Incomodado com a felicidade alheia, assim como todos os vilões do gênero, ele resolve raptar a namorada do nosso amigo Meat Boy. Desesperado para ter sua garota curativo de volta, o nosso herói precisa partir em uma jornada épica por mundos diferentes e macabros se quiser ser feliz de novo.

Você provavelmente já viu essa mesma história um milhão de vezes. Mas aposto que nunca viu nada protagonizado por um pedaço de carne que luta contra um bebê de proveta prematuro. A originalidade dos personagens faz toda a diferença aqui, pois você se identifica muito com o carisma deles. Isso sem falar no simbolismo que está por trás de tudo isso.

Eu poderia citar Freud e uma enxurrada de autores da psicologia, mas isso aqui não é uma tese. Como já falado, os criadores do jogo queriam algo que expressasse os seus sentimentos. Não seria o amor entre Meat Boy e Bandage-Girl uma metáfora perfeita para o amor dos criadores pelos games? Pensem bem: a garota band-aid completa o garoto de carne, dá sentido a sua vida. Os games cumprem esse mesmo papel para os produtores. 


O grande objetivo do jogo é percorrer trocentas fases superando os mais difíceis obstáculos, tudo isso para alcançar a felicidade transmutada em forma de garota. Não precisa ser nenhum gênio para perceber a simbologia aqui: fazer uma jornada para superar obstáculos em busca da felicidade é o ideal que todos almejamos. O Dr. Fetus nada mais é do que a superação dos problemas que surgem ao decorrer da vida.

Ao menos para mim, essa foi uma das mensagens claras que o jogo quis passar. Muito mais do que fazer homenagem ao gênero de plataforma e mostrar que os jogos estão muito além dos “grandes títulos”, o Team Meat quis passar aquela mensagem de que você não deve desistir de seus ideais. A busca do Meat Boy por sua amada é a busca da equipe por sucesso e reconhecimento.

Desisto! Nunca mais jogo esse troço

Se você for uma pessoa normal, provavelmente já falou alguma expressão parecida enquanto estava jogando. Apesar de possuir um objetivo muito simples: chegar ao final da fase, o trajeto pode ser mais complicado e frustrante do que você imagina. Mas a questão é que isso não é, nem de longe, algo negativo. Muito pelo contrário, essa dificuldade enorme faz parte do sucesso de Super Meat Boy.


Nos primeiros momentos, você percebe que o Meat Boy deixa um rastro de sangue por onde passa. Isso por si só já é bem legal, mas também possui um propósito: quando você morre, o seu sangue permanece no local, como que para te lembrar do que aconteceu. E isso também tem dois motivos: dizer que você é ruim e mostrar onde foi que você falhou. Há fases onde você literalmente morrerá dezenas, senão centenas de vezes, então podem se preparar para ver as fases tingidas de vermelho, e admirar a sua vergonha em fracassar. E quando você finalmente consegue, pode ver milhares de Meat Boys percorrendo a tela no replay e morrendo onde você falhou. É aquele típico jogo que exige a sua atenção máxima se você quiser ter sucesso.

Agora imaginem essa dificuldade por 300 fases, e vocês podem ter uma boa noção de que a jornada pode ser de arrancar os cabelos. Por outro lado, isso faz com que você tenha um sentimento inigualável de “superioridade” quando termina aquela fase impossível. Esse é, sem sombra de dúvidas, o sentimento que te impulsiona a continuar.


A grande sacada é que o jogo é extremamente simples, afinal, tudo o que você precisa fazer é percorrer o caminho da fase. Mas, a execução disso é o que torna o título uma obra-prima. Começando pelo design das fases. É difícil acreditar que tudo aquilo foi feito apenas por duas pessoas. Ao decorrer do jogo, você percebe o quanto eles foram criativos ao reaproveitar elementos. O próprio Edmund deixa isso claro:
Se fosse só um tipo de serra ela seria inútil. Uma das características mais importantes é saber como usar os elementos do cenário. Você precisa encontrar novas maneiras de usar a serra.

Isso é extremamente importante, pois demonstra que a criatividade é muito mais útil do que um time com 50 pessoas responsáveis apenas pelo level design. Mas não podemos analisar as fases sem levar em conta outro detalhe: a trilha sonora. As músicas do jogo estão em perfeita sintonia com o objetivo das fases e acompanham o ritmo de forma louvável. O destaque fica para os momentos mais tensos, nos quais a trilha sonora vai de riffs à batidas épicas.

Tudo é muito bonito e polido, sem falar nos controles precisos e na física espetacular do jogo, mas é a jogabilidade perfeita e bem planejada que te fará passar horas e perder muitos dias de vida com esse simpático pedaço de carne.

Criatividade sem limites

Que o Team Meat é criativo, não há dúvidas, mas você não cansa de se surpreender com eles ao decorrer do jogo. Logo no primeiro mundo, estava eu perambulando pelas fases quando percebo um pequeno buraco negro no canto. Quando encostei nele, fui levado a uma dimensão retrô muito bem construída e difícil. Chamadas de “dark world” esses mundos paralelos são homenagens aos clássicos jogos 8-bit e possuem um limite de vida. Se morrer, começa tudo de novo. Se ganhar, uma recompensa será desbloqueada.


Essas recompensas são personagens jogáveis, outra grata surpresa. Eles também podem ser destravados coletando os curativos espalhados pelas fases. Como de praxe, também são homenagens aos queridinhos da indústria dos indie games. A diferença é que, enquanto o Meat Boy é apenas um personagem normal, os outros possuem habilidades distintas, como planar e grudar em superfícies. Isso faz toda diferença em algumas fases. Mas o melhor de tudo é que você pode terminar o jogo com qualquer um dos personagens, afinal, poderes especiais não são necessários aqui, mas sim habilidade.

Super Meat Boy é o tipo de jogo perfeito para todas as horas, não importa se você está estressado com o trabalho ou se a sua namorada te trocou pelo seu irmão gêmeo malvado, sentar e jogar o título pode te fazer esquecer dos seus problemas mundanos. Em contrapartida, se sua vida anda um mar de rosas e você está apenas procurando desafios, nada melhor do que testar suas habilidades e reflexos.

O que eu estou querendo dizer é que não há desculpas, você precisa pôr as mãos nessa belezinha. Garanto que em poucos minutos você vai estar xingando, se divertindo e comemorando aos gritos suas conquistas. Mostre para a vida, ou para o seu irmão gêmeo malvado, que você consegue superar os obstáculos que surgem em seu caminho.

Exemplo a ser seguido

Vivemos um momento grandioso da indústria de games. E isso tem várias conotações positivas e negativas. Por um lado, surgem jogos muito bem construídos, verdadeiras produções mastodônticas que custam milhões e milhões e deixam todos de boca aberta. Por outro, muitos consideram erroneamente que esse é o padrão a ser seguido, e desprezam produções menores.


Senti um prazer indescritível ao jogar o título. Sentimento que as grandes produções falham cada vez mais em despertar. Gráficos ultra realistas não significam nada se o jogador não se divertir, sorrir diante da tela. A indústria precisa rever urgentemente os seus conceitos, e perceber que o passado glorioso dos games ainda tem muito a nos ensinar. Os produtores independentes perceberam isso faz tempo, a prova disso é o sucesso cada vez mais evidente de suas produções.

No fim das contas, Super Meat Boy, assim como diversos jogos indie, veio para dar um tapa na cara da indústria megalomaníaca. Um time de apenas dois caras, com nada mais do que criatividade e trabalho duro, provou de uma vez por todas que grandes orçamentos não são, e nunca serão, sinônimo de bons jogos. A mensagem é clara: se você ama games e quer trabalhar com isso, vá em busca do seu sonho e não desista.

Prós

  • Ideias geniais;
  • A velha história clichê temperada com personagens marcantes;
  • Mecânicas fantásticas e muito bem desenvolvidas;
  • Dificuldade irritante com uma sensação de desafio que não te faz largar o jogo;
  • Sentimento de recompensa indescritível;
  • Fases muito bem construídas e criativas;
  • Trilha sonora que acompanha o ritmo da jogatina;
  • Homenagem perfeita ao gênero plataforma.

Contras

  • Ainda não serviu de exemplo para os grandes produtores.
Super Meat Boy - PC - Nota: 10

Capa: Daniel Silva
Revisão: Catarine Aurora

Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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