Discussão

Discussão: Os jogos de tiro deveriam valorizar mais as campanhas offline multijogador?

Será que os jogos de tiro e ação não andam negligenciando um pouco as campanhas offline cooperativas? Pense nos grandes blockbusters do g... (por Thomas Schulze em 08/01/2013, via GameBlast)

Será que os jogos de tiro e ação não andam negligenciando um pouco as campanhas offline cooperativas? Pense nos grandes blockbusters do gênero: Killzone, Battlefield, Uncharted ou Call of Duty, todos eles têm uma coisa em comum: sua campanha principal foi feita para ser jogada sozinho. Mas será que o modo cooperativo realmente faz falta? Para debater esse tema tão intrigante, colocamos dois redatores para ter uma conversa franca sobre o assunto. Acompanhe conosco um bate papo entre Thomas Schulze e Gabriel Vlatkovic, dois amigos viciados em jogos de tiro e ação e forme sua própria opinião.
A vida não é melhor
quando dividida com alguém?

Thomas Schulze: Gabriel, sabe o que é absurdo? Eu não ter como jogar a campanha principal de Uncharted 3 com você se eu quiser. Quer dizer, até há uma meia dúzia de missões cooperativas no disco, mas eu queria mesmo era jogar em tela dividida as fases que importam! A história principal, saca?

Gabriel Vlatkovic: Nossa Thomas, nem me fale! O que houve com os bons tempos em que as desenvolvedoras colocavam o multiplayer cooperativo em pé de igualdade com as campanhas single player? Esse modo de jogo costumava vir de fábrica antigamente!

TS: Pois é! Sei que nós deveríamos falar sobre os jogos de ação modernos em nosso texto, mas não consigo parar de pensar nas tardes felizes da minha adolescência, quando recebia amigos em casa e passávamos a tarde zerando Contra III: The Alien Wars juntos. Acho que esses jogos exigem o contato ao vivo e real com um bom amigo para serem apreciados em sua plenitude. Quando eu jogava Contra, ou mesmo quando jogo games modernos cooperativamente em tela dividida, costumo me imaginar como Stallone, e imagino que meu amigo de ação é o Schwarzenegger, e que estamos gravando juntos um anabolizado filme de ação. Talvez minha imaginação seja muito fértil, mas o ponto é que a cooperação online torna tudo muito frio. Jogos de ação exigem... parceiragem, na falta de palavra melhor.
Cooperativamente, jogos de tiro podem passar tanta
adrenalina quanto um bom filme de ação.


GV: Exigem sim! Eu comecei a jogar videogames quando tinha uns cinco anos, e sempre jogava todos aqueles clássicos da era 16-bit cooperativamente. Muito estranho essa tendência ter sumido aos poucos. Apesar de que, se pensarmos bem, eliminar as campanhas cooperativas offline dos jogos de tiro é algo bem recente. Na geração passada eu lembro de passar horas jogando as campanhas da franquia Time Splitters em modo cooperativo e com tela dividida. Meu Deus, como era divertido! É realmente estranho como algo tão simples possa estar sendo extinto dessa forma. Tudo bem que estamos em uma época que os jogos online são a chave para o sucesso de qualquer empresa, e que é fantástico podermos jogar com pessoas ao redor do mundo, mas isso não acaba criando uma distância maior entre os jogadores? Não sei se estou ficando velho, mas o fato é que eu não troco uma bela tarde de domingo jogando videogame pessoalmente com os amigos por partidas cheias de pessoas desconhecidas. O que você acha?

Time Splitters é um raro
exemplo de FPS com co-op.
TS: Não vou negar, curto muito jogar online e concordo com o que você disse sobre essas funcionalidades serem necessárias para o sucesso de qualquer console nos dias de hoje. Mas acho que estão deixando de lado a razão de ser dos videogames: juntar um grupo de amigos e se divertir como se não houvesse amanhã! É engraçado pensar que um dos poucos jogos que ainda se preocupa com isso seja um que começou oferecendo experiências para apenas um jogador. Você já jogou Resident Evil 6? É quase como se eu voltasse no tempo e pudesse jogar de novo aquelas aventuras incríveis ao lado dos meus amigos!

GV: Tem toda razão, Thomas! Nem estava me lembrando de Resident Evil! Desde o quinto jogo da cronologia principal podemos jogar a campanha inteira como bem entendemos. Queremos jogar sozinhos? Podemos. Nosso melhor amigo se mudou pra China? Ok, vamos jogar online! Meu amigo veio passar a tarde em casa? Por que não destruir a Umbrella dando boas risadas? O fato é que a Capcom está de parabéns por ainda considerar que pessoas podem querer jogar jogos cooperativos offline de qualidade. É uma pena que Resident Evil seja um dos poucos jogos que possibilitam isso para nós, né?
Resident Evil 6 pode ter dividido a crítica, mas é inegável
que seus inúmeros modos multiplayer deveriam servir de modelo.


TS: É verdade! Mas sabe do que mais, Gabriel? Eu acho que a pequena quantidade de jogos que seguem esse modelo é mais culpa dos jogadores do que das desenvolvedoras. Como você bem disse há pouco, acho que o problema é que nós estamos ficando velhos demais... Honestamente, eu não sei se os jovens de hoje têm o mesmo apreço que nós pela jogatina cooperativa no sofá. Acho que a nossa geração, que cresceu jogando videogames nos anos 1980, acabou sendo acostumada a considerar o contato real e ao vivo parte crucial da diversão. O “problema” é que a geração atual já veio de fábrica acostumada a jogos sociais e experiências online, e certamente não tem o mesmo carinho que nós pelo sentimento de jogar com um amigo sentado diretamente a seu lado. Entende onde eu quero chegar?

Os jogos sociais estão acabando
com o multiplayer de sofá?
GV: Você quer dizer que a desenvolvedora de jogos de hoje acaba privilegiando a nova geração em detrimento da antiga, não é? Que esse caminho não apenas alavanca as vendas dos jogos pelo online ser a tecnologia do momento, mas também porque os novos jogadores já são educados desde cedo a compartilhar suas experiências mais pela internet do que ao vivo. Então na verdade são os jogadores que, mesmo indiretamente, acabam fazendo um pedido tácito para que o multiplayer online seja mais valorizado que o offline. Desse modo, jogos online venderiam mais justamente porque os novos jogadores tiram desse tipo de jogo sua maior alegria.

TS: Precisamente. Acho que o multiplayer hoje está mais preocupado em se aproximar de uma rede social do que qualquer coisa. Haja vista a constante integração que os jogos andam fazendo com o Facebook e com o Twitter, permitindo que tiremos onda dos nossos feitos virtuais com nossos amigos reais através da Internet. Antigamente dividíamos nossas alegrias e frustrações juntos em frente à televisão. Hoje fazemos o mesmo, só que pela web. Como os videogames sempre acabam servindo como retrato da geração, um mundo online necessariamente implica na existência de jogos online, e isso me preocupa um pouco. Será que ainda existe espaço para dinossauros como nós? As campanhas cooperativas estão com os dias contados e vão sumir paulatinamente?

Tudo que importa é
um bom amigo e um bom jogo.
GV: Cara, tudo o que eu sei é que hoje estava dando uma arrumada em minhas coisas e acabei tirando as teias de aranha dos meus velhos videogames. Então o que você acha de passar aqui em casa pra gente jogar um pouco de Contra cooperativamente em homenagem aos bons tempos?

TS: Só se for agora! Chego aí em dez minutos, levando salgados e bebidas. Hoje vamos mostrar pra esses aliens quem manda nesse planeta!

Colaboração: Gabriel Vlatkovic
Revisão: Rafael Becker

Escreve para o GameBlast sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0. Você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Escrevemos sob a licença Creative Commons BY-SA 3.0 - você pode usar e compartilhar este conteúdo desde que credite o autor e veículo original.


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